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'Nenhum objetivo pessoal deve ser mais importante que o bem-estar do animal e a conservação do habitat', diz biólogo sobre observação de aves

Postado em 03 de Setembro de 2024


Uso exagerado de playbacks e más condutas de guias estão entre os pontos destacados como críticos pelo especialista.

Lenheiro-da-serra-do-cipó (Asthenes luizae) é considerado Quase Ameaçada (NT) pela IUCN Eduardo Franco Na última quinta-feira (29), o Avistar Brasil transmitiu uma live sobre um tema instigante e cada vez mais relevante no universo da observação de aves.

Intitulada “Quando a observação de aves prejudica a conservação”, a conversa contou com a participação do biólogo e guia de turismo Eduardo Franco. Franco conduziu uma reflexão profunda e necessária sobre como práticas comuns na observação de aves podem ameaçar o bem-estar das espécies e a integridade de seus habitats.

Entre os pontos mais problemáticos que têm surgido com o aumento da popularidade da observação de aves, estão: uso exagerado de playbacks, competição acirrada por rankings e “lifers” (espécies novas adicionadas à lista pessoal de observação), e uso de flashes e lanternas em saídas noturnas como corujada, já que o brilho intenso pode desorientar e estressar as aves, prejudicando sua saúde e suas atividades naturais. “A busca incessante por adicionar novas espécies à lista pode encorajar práticas prejudiciais, como invasões de habitats sensíveis e pressões excessivas sobre as aves.

Não é que essas competições são ruins, pelo contrário, elas valorizam a atividade, mas precisamos criar limites para isso.

Já vi pessoas insistindo em lífer para uma cidade quando na verdade o registro foi feito já dentro do limite de outro município”, pontua. A live também trouxe à tona as preocupações com as condutas de guias e condutores de turismo.

Segundo o biólogo, muitos desses profissionais, na busca de satisfazer as expectativas dos clientes, podem recorrer a métodos que não respeitam os limites das aves e seus habitats. “Penso que esse é um momento oportuno para falarmos sobre essas questões, pois a atividade de observação de aves tem crescido muito.

Nós vimos os números das últimas edições do Avistar Brasil.

Em 2023, tivemos 8 mil pessoas e em 2024 esse número já subiu para 12 mil.

As pessoas precisam começar a se perguntar: ‘E a ave? E o ambiente? Se eu sofro para fazer a foto, imagina o bicho?’”, indaga. Considerada Vulnerável (VU) na classificação da IUCN, ararjuba é exemplo da ave muito visada por observadores Ananda Porto Uso de playback Embora a técnica de uso de playback possa ajudar a atrair a ave para mais perto, pois simula a presença de outro indivíduo no território, essa é uma modificação do comportamento natural da ave e seu uso indiscriminado pode levar ao estresse dos animais e até mesmo ao abandono de ninhos. De acordo com Franco, o volume do playback e o uso por muito tempo também são prejudiciais.

“Imagina você ficar 2 ou 3 horas em um mesmo ponto da trilha tocando o playback para a ave aparecer? Tudo isso pela foto perfeita, mas é um estresse enorme para o animal”.

Playback deve ser usado com cautela por observadores e pesquisadores Terra da Gente Conduta do guia de turismo Segundo o biólogo, a função de um guia de turismo vai muito além de simplesmente mostrar passarinhos para observadores de aves.

“Em um cenário onde a observação de aves está se consolidando como um produto oficial do Brasil e atraindo a atenção global, é crucial que os guias desempenhem um papel ativo na educação e na promoção de práticas responsáveis.

É fundamental que os guias estejam preparados para falar com clareza e autoridade sobre as melhores práticas de observação, explicando por que certas ações podem ser prejudiciais para as aves e seus ambientes naturais”, explica Franco.

Alteração do habitat A preservação dos habitats naturais é essencial para garantir a sobrevivência das espécies e a integridade dos ecossistemas.

Recentemente, ações de proteção foram implementadas para mitigar o impacto de atividades humanas em áreas sensíveis, refletindo a crescente preocupação com a conservação ambiental. Atividades como o pisoteio de ambientes, a alteração de ninhos e o dano a plantas endêmicas podem ter efeitos devastadores sobre a fauna e flora locais.

Essas práticas podem interromper o comportamento dos animais, prejudicar a reprodução e afetar a saúde dos habitats.

Para enfrentar esses desafios, algumas medidas específicas estão sendo adotadas. Uma das ações mais recentes envolve o fechamento temporário da Reserva Natural Rolinha-do-Planalto durante a temporada reprodutiva.

Reserva Natural Rolinha-do-planalto em Botumirim (MG) Reprodução/Parque das Aves “Essa decisão visa evitar qualquer impacto sobre o comportamento dos casais de aves que utilizam a área para reprodução.

Durante esse período crítico, o acesso à reserva será restrito para minimizar o estresse causado pela presença humana”, diz Edson Ribeiro Luiz, coordenador de projetos da SAVE Brasil. Para proteger ainda mais a espécie, que é rara e vulnerável, a data exata do fechamento não será amplamente divulgada.

Os visitantes interessados em agendar uma visita durante esse período serão aconselhados a marcar suas visitas para depois da temporada reprodutiva.

Essa estratégia ajuda a assegurar a proteção da espécie sem comprometer a experiência de observação de aves em momentos menos sensíveis. Outro exemplo é o fechamento da Cachoeira do Rolinho, localizada na Serra da Canastra.

Desde o dia 24 de agosto até 30 de setembro, a área está fechada para visitação devido ao impacto causado por visitantes que pisotearam a vegetação à margem do rio para filmar uma família de pato-mergulhão com seis filhotes. Família da espécie pato-megulhão Wellington Viana “Nós recebemos denúncia anônimas de que guias de observação de aves e turistas estavam adentrando em áreas que não são permitidas para tirar fotos da família.

E o grande medo nosso é que a família estava ‘presa’ entre duas cachoeiras, em um trecho de 1 km, então os bichos ficavam acuados.

Só este ano tivemos quatro ninhos predados naturalmente e é uma espécie muito ameaçada”, explica Wellington Viana, biólogo e guia da Canastra.

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