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'BBB da autonomia': imersão inspirada no reality reúne adultos com síndrome de Down em SP

Postado em 04 de Setembro de 2024


O g1 visitou o Expedição 21 em um dia de atividades sobre liberdade sexual e questões raciais.

O programa ainda conta com eventos sobre como ter uma vida independente mesmo com a condição, festas para a integração dos participantes e aulas de formação para os pais.

Expedição 21 reúne jovens com síndrome de Down para imersão em SP Aline Freitas/g1 Com direito à mesma música tema do Big Brother Brasil, um "reality" de imersão realizado em Cotia, na Grande São Paulo, reuniu um grupo de 18 adultos com síndrome de Down.

O objetivo do programa é, em um período de três dias, passar para os participantes lições sobre como levar uma vida independente.

Esta foi a quinta edição da Expedição 21, que começou em 2018 e já ocorreu em outras cidades, como Florianópolis e Rio de Janeiro.

Desta vez, uma casa de luxo alugada na Grande São Paulo foi escolhida para sediar o evento entre 14 e 16 de agosto.

Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp O g1 visitou a casa dos expedicionários no segundo dia de evento, que foi reservado para oficinas sobre autonomia, uma atividade com uma sexóloga, uma palestra sobre diversidade racial e uma festa para confraternização.

Nesta matéria você confere: Cromossomo e Expedição 21 Cronograma e as regras Participantes e seleção O segundo dia de atividades Os pais A vida de quem já participou Próximos passos Cromossomo e a Expedição 21 A iniciativa de criar a Expedição 21 é de Alex Duarte.

Formando, inicialmente, em comunicação social, ele teve o primeiro contato com a condição quando ainda era jornalista, na produção de uma reportagem sobre uma jovem com síndrome de Down que havia passado na faculdade de nutrição.

“No meio da entrevista, ela me fez uma pergunta que mudou completamente minha vida”, contou.

“Ela me perguntou: 'Alex, você tem um melhor amigo? Porque eu não tenho, ninguém me convida para sair.

De vez em quando, me chamam para um aniversário e eu sei que é por obrigação.

E, por isso, eu queria te perguntar se você gostaria de ser o meu melhor amigo'.” A partir da amizade com Adriele, Alex decidiu mudar de área e se especializar em pedagogia para pessoas com trissomia do 21 (a síndrome de Down é causada por uma cópia extra do cromossomo 21).

Anos depois, em 2010, ele fundou o Cromossomo 21, um instituto que busca oportunidades para pessoas com a condição.

Da iniciativa, já saíram um documentário, uma visita à ONU e, claro, o programa Expedição 21. Alex Duarte ajuda expedicionária com tarefa da imersão Aline Freitas/g1 Cronograma e as regras Durante os tês dias de imersão, as atividades dos "expedicionários" são voltadas para a independência em todas as esferas, como morar sozinho, liberdade sexual e oportunidades de emprego.

Algumas empresas parceiras também promovem visitas aos escritórios e estúdios.

A Rede Globo abriu as suas portas no Rio de Janeiro e, em São Paulo, foi a vez da Microsoft.

"Eles vão conhecer o complexo da Microsoft Brasil para entender como é que funciona a criação dos videogames para pessoas com deficiência, videogames que são inclusivos para quem nasceu com uma deficiência intelectual", afirmou Alex.

Além disso, os participantes ainda curtem duas festas, uma de formatura, e uma no segundo dia de atividades, que promove a socialização e a amizade.

E só amizade mesmo, porque o namoro e as demonstrações de afeto mais quentes (como beijos) são proibidos na Expedição 21.

"E isso é um grande desafio para eles aqui, porque eles sabem que estão em um curso de imersão e, se você descumprir essa regra, você é desclassificado da expedição.

Porém, como eles criam conexões muito profundas, isso fortalece amizade e às vezes nessas conexões há amor mesmo, né? Se conhecem e se apaixonam", relatou Alex.

Pensando nisso, o criador da imersão começou a permitir casais na formatura, após o fim do programa.

Assim como no BBB, ex-participantes que se conheceram na casa em edições anteriores estão casados hoje em dia (falaremos deles mais para frente).

Entre as regras, também é obrigatório manter os ambientes arrumados, prestar atenção em um monitor quanto toca uma corneta e a participação durante as atividades.

Os exploradores são divididos em equipes e, a cada regra quebrada - com exceção do namoro, que leva à expulsão -, o grupo perde pontos.

No final, os participantes com mais pontos são os vencedores.

A competição, contudo, não tem prêmio. "A gente faz isso para eles entenderem que também podem competir", explicou Alex.

"A gente não conta qual o prêmio e eles também não perguntam, porque para eles o importante é participar." Os participantes e a seleção Participantes da quinta edição da Expedição 21 Divulgação Entre os "brothers" da edição de São Paulo, estão figuras conhecidas como a modelo Maju de Araújo, que tem quase 1 milhão de seguidores no Instagram, e o influenciador João Vitor Paiva.

"Vai me ajudar em muitas coisas, porque eu quero ser pai também, quero ter meus filhos, com a minha namorada, e eu queria muito que isso levasse muitas coisas para a minha autonomia”, respondeu o influencer sobre as vantagens da Expedição.

Desta vez, os 18 participantes escolhidos têm entre 18 e 34 anos, sendo 11 mulheres e 7 homens.

Segundo Alex, durante o processo de seleção, a equipe se preocupa com a diversidade entre os participantes.

Nesse caso, os aspectos mais considerados são: regionalidade e nível de autonomia.

Nas outras vezes em que a Expedição ocorreu, os participantes não pagavam o programa.

Porém, com a perda do patrocínio de uma empresa que era a mantenedora do projeto, a imersão deixou de ser gratuita.

Enquanto o programa não acha outro grande patrocinador, a solução encontrada foi fornecer quatro vagas para "bolsistas".

“Essa é a primeira edição paga, mas que a gente tem quatro pessoas que participam de forma gratuita.

Que são pessoas que moram na periferia, pessoas em situação de vulnerabilidade social”, explicou Alex. O segundo dia de atividades O g1 visitou a Expedição 21 no segundo dia de atividades, quando a psicóloga e sexóloga, Nancy Costa abordou a sexualidade entre pessoas com a síndrome.

Em uma conversa sem infantilização, os participantes eram encorajados a comentar sobre os seus desejos e se referirem às suas partes íntimas pelo nome, nada de "larissinha" ou "pipi".

Nancy também abordou métodos contraceptivos e a vida de casado.

Como um dos objetivos da Expedição era ter uma diversidade de autonomia na participação, as reações durante a conversa foram variadas.

Muitos se sentiram à vontade para compartilhar suas experiências e vontades, mas algumas pessoas se sentiram incomodadas com o tema e chegaram a pedir para deixar a sala.

"O que eu percebo é que essa mentoria está muito ligada à questão do desejo, que, de certa forma, é tolhido o tempo todo", relatou Nancy.

"Tem pais que ainda lavam o filho que tem 18, 20 anos." Sexóloga e psicóloga Nancy Costa dá aula de educação sexual para expedicionários Aline Freitas/g1 Além de Nancy, a especialista em diversidade racial Luciana Viegas também conversou com os expedicionários.

Ela abordou o racismo estrutural e como percebê-lo no dia a dia.

"Eu estou muito encantanda porque eles são muito acolhedores e é um momento importante pra gente pode debater deficiência, raça e a importância disso dentro da comunidade", relatou.

Luciana dá palestra sobre racismo para a quinta turma da expedição 21 Aline Freitas/g1 No final do dia, houve ainda um desafio de localização, em que precisavam andar pelo condomínio e depois encontrar o caminho para a casa.

No final do dia, o programa ofereceu uma festa tipo balada.

Os pais Para quem já está envolvido na expedição há algum tempo, como Alex e Nancy, já há uma percepção importante sobre algo que, mesmo não tendo esse objetivo, acaba atrapalhando o desenvolvimento da autonomia de pessoas com índrome de Down: a superproteção dos pais.

Algo que também é trabalhado durante o processo de imersão.

"Enquanto os jovens estão aqui, os pais estão em outro espaço também sendo trabalhados não para proteger os filhos, mas para que eles possam receber os filhos na forma como eles vão chegar empoderados, mais autônomos", contou Alex.

Durante a conversa com a sexóloga, alguns participantes justificavam que não poderiam falar sobre o assunto porque "os pais não deixavam".

Ela, Alex e funcionários comentaram que, muitas vezes, é difícil convencer os pais de que os filhos com trissomia do 21 podem levar uma vida independente, podem ter uma vida sexual ativa e, até mesmo, morar sozinhos.

A vida de quem já participou Como exemplo de vida autônoma, um casal de ex-participantes conversou com os expedicionários da quinta edição.

Manuel e Isabela se conheceram na primeira turma da Expedição 21, não namoraram na casa - por ser proibido - mas mantiveram contato aqui fora, até resolverem se tornar um casal.

Entre os assuntos abordados, os dois contaram que moram juntos, no mesmo prédio dos pais de Manuel, em Santos.

Na vida profissional, Manuel dá palestras e faz faculdade de design, já Isabela é modelo.

Os dois também têm um perfil juntos no Instagram em que compartilham a sua rotina.

Apesar de manterem empregos, os dois admitiram, durante a conversa, ainda precisarem de ajuda financeira dos pais de Manuel.

"Ainda não dá para a gente se sustentar sozinho", disse Isabela.

Ainda assim, os dois levam uma vida de casados, uma rotina que exige independência e dedicam essa conquista ao programa do Cromossomo 21.

"É uma experiência muito incrível como casal, a dois.

E, antes disso, éramos iguais a eles, aí aprendemos autonomia", explicou Isabela.

"[A Expedição é] uma inspiração para os outros jovens, porque a gente pode aprender mais independência, autonomia e responsabilidade”, disse Manuel.

Manuel e Isabela em conversa com participantes da Expedição 21 Aline Freitas/g1 Próximos passos Os novos objetivos do programa, segundo Alex, incluem trazer mais visibilidade para a Expedição e o Cromossomo 21.

O intuito é voltar a ter uma imersão gratuita para todos os participantes e não só os bolsistas.

O foco, agora, é ter mais participantes negros na imersão, algo que, segundo Alex, ainda é uma dificuldade.

"Poucas pessoas negras se inscrevem, às vezes nenhuma", explicou.

"Já tivemos participantes negros, mas é cada vez mais difícil." Ele e Luciana pretendem realizar uma parceria para que encontrem uma família com um filho negro e portador da condição disposto a participar do programa.

Além dos objetivos, a Expedição 21 também já tem o seu próximo destino definido.

Os novos participantes e Alex irão para Orlando, nos Estados Unidos, desta vez por seis dias e com direito a visita aos parques de diversão.

O número de participantes também vai mudar, serão 10, no lugar de 18, que ficarão na imersão de 23 a 29 de outubro.

O planejamento do programa também conta com uma reunião de veteranos, realizada no Rio de Janeiro, no final do ano.

Turma da Expedição 21 em São Paulo Aline Freitas/g1 *Sob supervisão de Paula Lago

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