Apesar da alta do setor agrícola e pecuário, o consumo e as principais indústrias do país continuem sofrendo com os impactos das medidas econômicas do presidente Javier Milei.
O presidente da Argentina, Javier Milei. Natacha Pisarenko/AP A atividade econômica da Argentina recuou 3,9% em junho em comparação com o mesmo mês do ano passado, mostraram dados oficiais do país nesta quarta-feira (21). A contração da economia foi pior do que as projeções de mercado apontavam.
De acordo com pesquisa da agência de notícias Reuters, a média das estimativas era de uma queda de 1,9%.
Nem a pior das projeções neste levantamento, que previa encolhimento de 3,2%, chegou aos 3,9% de baixa registrados. LEIA TAMBÉM 'Argentina está inviável': os brasileiros que estão abandonando o país com a explosão do custo de vida Tombo maior em 2024 e forte crescimento em 2025: as projeções do Banco Mundial para a Argentina PIB da Argentina recua 5,1% no 1º trimestre e país entra em recessão técnica O resultado vem após a economia argentina apresentar uma alta anual de 2,3% em maio, num movimento raro, já que o país vinha de seis meses consecutivos de quedas na atividade econômica. Naquele mês, a alta foi puxada pelo setor agrícola e pecuário, que disparou 100% na relação anual, superando um período de secas severas no ano anterior, que prejudicou as plantações. Em junho, o setor continuou crescendo e acumulou uma alta de 82%.
Apesar disso, a Argentina não teve forças para continuar crescendo, refletindo as medidas de controle de inflação do presidente Javier Milei, que afetaram o consumo da população e outros setores importantes da economia. O setor de construção, por exemplo, despencou 24% na comparação anual, enquanto a atividade industrial caiu 20%. Inflação na Argentina cai ao menor patamar desde 2022 Os ajustes de Milei que contribuem para a contração econômica Após assumir a presidência, em dezembro passado, Javier Milei promoveu uma série de ajustes que levaram a um "choque na economia".
As tarifas de água, gás, luz, transporte público e serviços essenciais deixaram de ser subsidiadas pelo governo, o que promoveu um aumento expressivo nos preços. Além disso, o presidente também paralisou obras federais e interrompeu o repasse de dinheiro para os estados, visando reduzir os gastos públicos. As medidas tiveram efeitos: a inflação, depois do choque inicial, vive um período de desaceleração e chegou ao menor patamar de 2022 em julho, os juros começaram a cair e, a notícia mais importante, o país registrou o seu primeiro superávit (quando as receitas do governo são maiores que as despesas) desde 2008 no primeiro trimestre desse ano. Isso fez com que o Fundo Monetário Internacional (FMI) fechasse um acordo que permite o desembolso de cerca de US$ 800 milhões para os cofres públicos da Argentina, destacando o "primeiro superávit fiscal trimestral em 16 anos, a rápida queda da inflação, a mudança de tendência das reservas internacionais e uma forte redução do risco soberano". Especialista destacam, porém, que o superávit é uma consequência direta da redução dos gastos, e não da elevação das receitas obtidas pelo governo — o que pode não ser sustentável no longo prazo. Para isso, milhares de demissões ocorreram, assim como os salários e aposentadorias tiveram uma queda importante.
A consequência é uma intensificação da crise econômica que assola o país e já colocou 41,7% dos 46,7 milhões dos argentinos abaixo da linha da pobreza, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Essas condições econômicas têm impactado os níveis de consumo da população e até as carnes - que representam uma das maiores tradições argentinas, o churrasco - estão perdendo espaço: até março, o consumo de carnes no país estava no menor nível em 30 anos, segundo a Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da Argentina. A expectativa é que, com o consumo menor, a inflação possa arrefecer cada vez mais, um dos principais compromissos de Milei desde sua campanha eleitoral. *Com informações da agência de notícias Reuters