Instituição diz que abriu um procedimento para investigar o caso; pichações foram feitas em diversos locais do campus da universidade.
Racismo aconteceu no campus Sorocaba (SP) da UFSCar Arquivo pessoal Um grupo de estudantes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), do campus Sorocaba (SP), registrou um boletim de ocorrência para denunciar frases de cunho racista pichadas em diversos ambientas da instituição.
A UFSCar abriu um procedimento interno para investigar o caso.
Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp De acordo com uma das vítimas, as pichações foram feitas no dia 29 de agosto e são direcionadas para alunas específicas.
As frases de ódio mencionam as palavrás mensagens "imunda" e "preta suja". "Recebi uma mensagem de uma amiga dizendo que estava na faculdade e havia presenciado pichações racistas no campus de Sorocaba atacando eu e uma aluna do curso de geografia.
Resolvemos verificar as pichações, tirar fotos e procurar outras inscrições ofensivas para enviar para a diretoria com intuito de serem removidas", conta. Ainda segundo o relato da estudante, ao chegarem no campus, as jovens se depararam com o local isolado por seguranças, além de uma mulher e um homem, que estavam verificando o conteúdo das mensagens.
Uma das vítimas, diz a estudante, teria sido repreendida pelos homens que tomavam conta do local. "Uma das vítimas desse ato racista chegou visivelmente abalada e nervosa.
Ao perceberem o estado emocional da vítima, ao invés de oferecerem apoio, começaram a gritar com ela, exigindo saber se ela era realmente a vítima das pichações." "Enquanto tentávamos buscar respostas, percebi que os seguranças, desde o início, se mostraram contrários à nossa presença ali.
Eles pareciam mais preocupados em controlar a situação de forma autoritária do que em oferecer qualquer tipo de suporte às vítimas.
A abordagem ficou ainda mais intimidante quando solicitaram para sairmos de perto", comenta a vítima. Mensagens foram direcionadas para alunas específicas Arquivo pessoal As vítimas contam que se reuniram com a diretoria da universidade para debater sobre o assunto.
"Organizamos uma reunião com a diretora, familiares das vítimas e outras pessoas negras que participaram por pedido nosso, para que nos sentíssemos mais seguras ao falar sobre o crime.
A universidade solicitou apenas as imagens do espaço de vivência para verificação, ignorando as outras pichações.
Sentimos uma falta de interesse da parte deles em descobrir o responsável", lamentam. Estudantes denunciaram situações de racismo no campus Arquivo pessoal As estudantes da UFSCar contaram ao g1 que questionaram a existência de imagens do circuito de monitoramento.
Segundo elas, a diretora revelou que as câmeras estavam em manutenção e cogitou a hipótese de não haver registro das pichações. "Durante a reunião, questionamos a diretora sobre a funcionalidade das câmeras, já que existe um boato de que elas não funciona.
Em resposta, ela disse que as imagens haviam sido solicitadas.
Porém, dias depois, ela revelou não saber que as câmeras estavam em manutenção e que não haviam pedido registros das demais áreas", pontuam. "Infelizmente, a UFSCar convive muito com o racismo.
Nos jogos universitários, alunos imitaram um macaco para um estudante negro.
Pichações também já ocorreram muitas outras vezes.
Isso ilustra bem o ambiente hostil que convivemos.
O preconceito velado e 'sutil' também existe e nada é feito sobre isso.
Os estudantes têm medo de denunciar o que acontece", alegam. Caso aconteceu no dia 29 de agosto Arquivo pessoal Falta de comunicação Cerca de uma semana após o ocorrido, as alunas se queixam do desamparo dos funcionários do campus responsáveis pela investigação e pontuam a falta de comunicação entre a instituição de ensino e as vítimas. "Embora a universidade aparentemente tenha iniciado as investigações, até o momento não recebemos nenhuma informação concreta sobre o andamento do caso.
A falta de comunicação clara e o atraso nas ações tomadas pela reitoria nos deixam desamparadas.
Estamos nos sentindo humilhadas", compartilham. Devido ao crime, as mulheres não têm frequentado as aulas.
"Nenhuma de nós está indo à faculdade.
Estamos com medo e vergonha.
O medo do que a pessoa que escreveu as pichações possa fazer contra nós é constante.
A vergonha de frequentar um ambiente que nos deixam tão expostas e vulneráveis nos impede de continuar nossa vida", lamentam. "Não frequentar as aulas prejudica não apenas nosso rendimento, mas também nosso bem-estar geral.
O medo e a incerteza em relação ao que pode acontecer a seguir têm criado uma barreira que parece intransponível.
O estresse, a ansiedade e a insegurança está nos afetando bastante." O que diz a UFSCar Em nota, a UFSCar Sorocaba afirma que a diretoria imediatamente orientou as vítimas a realizarem a denúncia formal.
Juntamente, foi aberto um processo interno, que corre sob sigilo, para investigar o caso junto à Coordenadoria de Gestão e Mediação de Condutas (Cogmec). Além disso, a universidade informou que a diretoria atuou no acolhimento às vítimas e, em articulação com a Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (Saade), com a Liga Acadêmica Negra Luis Gama e o Departamento de Assuntos Comunitários e Estudantis (Deace), irá intensificar as atividades envolvendo a temática racial nos espaços da UFSCar. "É importante ressaltar que racismo é crime e que a universidade, além de não tolerar casos como este, irá sempre adotar todas as medidas legais para a investigação e responsabilização em casos dessa natureza", informou em nota. *Colaborou sob supervisão de Matheus Arruda Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM