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Manual do fabricante aponta risco de ATR perder sustentação e girar sob condição de gelo severo

Postado em 06 de Setembro de 2024


Procedimento de voar sob gelo severo é considerado uma emergência para aeronaves como o ATR-72-500 que caiu em agosto em Vinhedo, no interior de São Paulo, segundo a fabricante.

Cenipa trata formação de gelo como uma das hipóteses para o acidente.

Destroços de avião em Vinhedo Miguel Schincariol/AFP O manual do ATR 72, como o que caiu no interior de São Paulo, aponta o risco de a aeronave perder sustentação ("estolar", no jargão aeronáutico) e girar se entrar em uma área de gelo severo.

A ATR classifica essa condição como "de emergência". O ATR da Voepass sobrevoava a cidade de Vinhedo a uma altitude de 5.100 metros.

Segundo relatório preliminar do Cenipa divulgado nesta sexta (6), havia formação de gelo severo no local.

A aeronave caiu sem controle e girando no ar, mostram vídeos gravados do momento do acidente, após estolar.

A queda matou 62 pessoas —58 passageiros, dois comissários, copiloto e comandante do avião. O Cenipa, órgão da Aeronáutica, investiga as causas do acidente.

Com base no relatório preliminar, já se sabe que o avião estava em formação de gelo e que o alarme antigelo ligou e desligou várias vezes durante o voo, e que um alarme de degradação de performance por gelo soou menos de 2 minutos antes da queda. Peças não se soltaram de avião durante queda em Vinhedo Manual alerta sobre gelo severo Pela característica das asas, na parte superior do avião, e da altitude em que voa (mais baixo que um jato), o ATR, um turboélice, está mais sujeito a ser impactado pelas formações de gelo.

A aeronave tem um sistema antigelo e dispositivos no painel que apontam impacto às condições de voo resultantes do gelo.

Ainda assim, a fabricante alerta que o gelo severo acumulado nas superfícies de voo, como as asas e o estabilizador horizontal, pode não ser removido pelo sistema antigelo e "degradar seriamente a performance e controlabilidade da aeronave", diz um manual da aeronave obtido pelo g1.

Manual do ATR 72 Reprodução Em outro manual, "Operações em tempo frio - prepare-se para o gelo", de 2011, a ATR alerta que o "gelo severo indica que a taxa de acúmulo é tão rápida que os sistemas de proteção contra gelo falham em remover o acúmulo".

Orienta ainda: "A tripulação precisa sair dessa condição imediatamente".

O manual foi distribuído para as companhias aéreas que operam o avião --usado principalmente em rotas regionais e, no Brasil, adotado pela Voepass e pela Azul. Radares não detectam formação de gelo severo nos aviões, mas a previsão meteorológica aponta quando há esse tipo de situação em rota. Orientação para escapar do gelo A orientação da ATR para os pilotos saírem de uma condição de gelo severo está na parte de "emergency procedures" do manual, ou procedimentos de emergência.

A manobra é treinada em simuladores frequentemente, disse ao g1, sob condição de anonimato, um instrutor de voo de ATR. Entre os procedimentos estão: Aplicar a potência máxima nos motores; Desligar o piloto automático Segurar "firmemente" o manche "para evitar movimentos não esperados da aeronave" quando o piloto automático for desligado. Abaixar o nariz do avião Escapar da área de gelo severo Informar o controle de tráfego aéreo sobre a redução de altitude Em outro trecho, o manual orienta a adotar o procedimento contra estol "em caso de comportamento anormal de rolagem [giro] do avião".

Significa, na prática, também abaixar o nariz do avião e aplicar máxima potência.

Há um alarme no avião que indica estol ao tremer o manche --é o chamado "stick shaker".

O alarme tocou antes do acidente da Voepass. "O perigo do gelo severo é que o alarme de estol pode não ser disparado antes da asa estar tão contaminada com gelo a ponto de entrar em estol antes", diz o comandante norueguês Magnal Nordal, piloto há 24 anos de aeronaves ATR, em um vídeo em seu canal no Youtube. Ele aponta que o ATR é equipado com um sistema que alerta antes se as condições aerodinâmicas do avião estão prejudicadas por um eventual excesso de gelo não detectado.

Isso torna o avião mais pesado, em razão do "arrasto", a resistência do ar. "Isso pode resultar em descida forçada, mas é uma emergência.

Então você não tem que esperar o aval do controle de tráfego aéreo para descer.

Só assegure que tenha velocidade, depois você declara emergência.

Quando se trata de gelo, velocidade é vida", diz. Manual do ATR com instrução para comportamento anormal do avião Reprodução Nordal diz que as aeronaves ATR tem fama de inseguras sob gelo.

Isso se deve a um acidente com um ATR da American Eagle, em 1994, nos Estados Unidos, sob más condições climáticas.

Apesar disso, a ATR está certificado com capacidade de voar em segurança, graças aos sistemas de proteção contra o gelo, e é usado em todo o mundo.

"Houve três outros acidentes relacionados a gelo severo.

Os últimos dois aconteceram porque a tripulação ficou esperando a liberação do controle de tráfego aéreo para descer e enquanto eles estavam esperando, perderam velocidade, a aeronave estolou e perderam controle".

No caso do ATR da Voepass que caiu em Vinhedo, o Cenipa informou que não houve contato com o controle de tráfego aéreo. O g1 procurou a ATR, que disse que não poderia se manifestar em razão da investigação do acidente. Vídeo mostra queda de avião em Vinhedo Trajetória de avião que caiu em Vinhedo Arte g1

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