Reporte preliminar não trouxe as causas do acidente, mas apontou linhas de ação que devem ser seguidas e os pontos que ainda precisam ser aprofundados pelos investigadores.
Foto mostra local da queda em Vinhedo Claudia Vitorino/ Arquivo pessoal Durante a divulgação do relatório preliminar sobre a queda do avião da Voepass nesta sexta-feira (6), o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) não apontou as causas do acidente, mas antecipou os itens que devem ser analisados e aprofundados para a elaboração do relatório final da tragédia. O acidente aéreo aconteceu no dia 9 de agosto, em Vinhedo (SP), com aeronave ATR 72-500 que fazia o voo 2283, entre Cascavel (PR) e Guarulhos (SP).
Os 58 passageiros e os quatro tripulantes morreram na queda do avião. O documento inicial apresentado pelo Cenipa nesta sexta trouxe informações relevantes sobre o acidente, como o fato da tripulação ter relatado uma falha no sistema antigelo, mas não conseguiu confirmar, com base nos dados da caixa-preta de dados, se isso de fato aconteceu e impactou o desempenho da aeronave. Cronologia da queda: caixas-pretas revelam, segundo a segundo, o que aconteceu com avião que caiu em Vinhedo Menos de 2 minutos antes da queda, alerta no painel avisou tripulação da Voepass que gelo prejudicava voo Simulação do Cenipa reproduz queda do avião da Voepass em Vinhedo O Cenipa evitou apontar uma linha principal de investigação, mas o relatório preliminar do órgão cita a averiguação dos sistemas de degelo da aeronave e a análise do desempenho técnico dos tripulantes como "linhas de ação" dos investigadores para a construção do relatório final. O relatório final não tem prazo para ser divulgado, mas o coronel Carlos Henrique Baldin, chefe de investigação do Cenipa, afirmou, durante a coletiva de imprensa em Brasília (DF), que o compromisso do órgão é publicar no menor prazo possível o documento que deve apontar os fatores que contribuíram para a tragédia. Em nota divulgada após a apresentação do relatório do Cenipa, a Voepass afirmou que o relatório preliminar concluiu que o avião estava com a documentação em dia e a tripulação devidamente apta a voar.
Afirmou, ainda, que "somente o relatório final do Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido". Com base no reporte preliminar, confira abaixo o que se sabe e o que falta saber sobre a queda do avião da Voepass: Manutenção da aeronave Aeronave e tripulação estavam com documentação em dia, mostra reporte preliminar do Cenipa O que se sabe: o avião estava com registros de manutenção atualizados e em dia e não havia nada que impossibilitasse a decolagem; O que falta saber: se as manutenções foram feitas com qualidade; Treinamento dos pilotos O que se sabe: os pilotos tinham treinamento específicos para voos em condições de gelo realizados em simuladores e estavam com os documentos em dia. O que falta saber: se os pilotos conseguiram executar, diante de aspectos humanos (situação psicológica) e operacionais (desempenho técnico), aquilo que haviam sido treinados. Sistema antigelo da aeronave Chefe do Cenipa comenta fala de tripulantes sobre falha em sistema de gelo das asas O que se sabe: nas gravações, foi possível ouvir que os pilotos relatam uma falha no sistema responsável pelo degelo das asas, mas o gravador de dados não confirmou, no primeiro momento, essa falha.
Além disso, a caixa-preta revelou que o sistema antigelo ligou três vezes e desligou duas vezes durante o voo e, por conta disso, o avião voou seis minutos com aviso de gelo sem que o sistema de degelo estivesse ligado. O que falta saber: se realmente houve uma falha no sistema antigelo e entender se o ligamento e desligamento desse dispositivo aconteceu por falha operacional da aeronave ou por intervenção dos pilotos. Cenipa fala sobre desligamento do sistema de antigelo do avião da Voepass Condições meteorológicas O que se sabe: antes da decolagem em Cascavel os radares meteorológicos já apontavam risco de formação de gelo severo na altitude em que a aeronave passaria no estado de São Paulo. O que falta saber: a temperatura e umidade exatas no horário do acidente para compreender o tamanho e quantidade de formação de gelo que havia sob a atmosfera. Comunicação com o controle do tráfego aéreo Não é possível dizer, até momento, se pilotos erraram ao não declarar emergência, diz FAB O que se sabe: que embora tenham pedido à torre em São Paulo para descer de altitude, em nenhum momento os pilotos declararam emergência diante da situação de gelo severo. O que falta saber: se os pilotos erraram ao não declarar emergência ou se os sistemas da aeronave não os alertaram sobre a situação de perda de sustentação da aeronave. Recomendações à aviação Cenipa diz não ter visto necessidade de, até o momento, expedir recomendações de segurança Segundo o brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, as informações levantadas até o momento pela investigação ainda não demonstram a necessidade do órgão expedir recomendações aos órgãos de aviação civil do Brasil.
O militar, no entanto, explicou que isso pode acontecer ao longo da apuração. Linhas de ação Segundo o Cenipa, com base nos dados obtidos por meio dos gravadores (caixas-pretas) de áudio e de dados e a partir das informações colhidas junto ao operador da aeronave (Voepass) e do seu fabricante (ATR), a investigação seguirá três principais linhas de ação: Fatores Humanos: explorar os condicionantes individuais, psicossociais e organizacionais relacionados ao desempenho da tripulação ante a situação vivenciada; Fator Material: averiguar a condição de aeronavegabilidade, com especial atenção aos sistemas Anti-Icing, De-Icing (antigelo) e de proteção contra stall (perda de sustentação) a aeronave; Fator Operacional: analisar os aspectos relacionados ao desempenho técnico dos tripulantes e dos elementos relacionados ao ambiente operacional no contexto do acidente. Investigação da Polícia Federal Em paralelo à investigação do Cenipa, a Polícia Federal (PF) também apura as razões do acidente por meio de análises dos dados de componentes e caixas-pretas do avião.
LEIA MAIS: PF começa a analisar caixas-pretas e dados técnicos de avião da Voepass que caiu em Vinhedo Caixas-pretas gravaram vozes e dados relacionados à queda de avião em Vinhedo Saiba quais dados caixa-preta de avião que caiu em Vinhedo tinha autorização para não registrar e qual o impacto na investigação A investigação acontece de forma conjunta entre os dois órgãos.
Diferentemente do Cenipa, que apura as causas para apontar melhorias e evitar futuras tragédias, a investigação da polícia busca verificar se existem pessoas que devam ser responsabilizadas criminalmente pela tragédia.
Por isso, a PF vai produzir, paralelamente ao relatório final do Cenipa, um Laudo de Sinistro Aeronáutico.
Para a produção dele, peritos criminais do Instituto Nacional de Criminalística vão acompanhar todos os exames, ensaios e testes realizados no Cenipa, incluindo análise dos destroços, do motor, das caixas pretas e outros. Segundo a corporação, esse documento é importante porque traz aspectos técnicos e científicos acerca do acidente aéreo que, confrontados com testemunhas, podem indicar se atuações pessoais contribuíram com o acidente. Trajetória de avião que caiu em Vinhedo Arte g1 Cronologia da tragédia Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas. Veja, abaixo, da decolagem à queda, a cronologia do acidente da Voepass, o maior do país em número de vítimas desde 2007, quando um avião atingiu um edifício em São Paulo ao tentar pousar. A aeronave decolou às 11h56 e o voo seguiu tranquilo até 13h20. O avião subiu até atingir 5 mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude, segundo a plataforma Flightradar. Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca. De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a partir das 13h21 a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas. Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro – a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros. A velocidade dessa queda foi de 440 km/h. O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou que o “Salvaero” foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada dentro de um condomínio. Gravador de voz da cabine do avião ATR-72 que caiu em Vinhedo Reprodução/TV Globo VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região Veja mais notícias da região no g1 Campinas