Proposta pelo presidente López Obrador, reforma é discutida por senadores após ser aprovada com facilidade na Câmara dos Deputados.
Medida é controversa e enfrenta manifestações contrárias desde o final de agosto.
Manifestantes invadem prédio do Senado mexicano e causam suspensão de discussão da reforma judicial em 10 de setembro de 2024. REUTERS/Raquel Cunha O Senado mexicano interrompeu indefinidamente as discussões da reforma judicial que institui o voto direto para cargos do Judiciário após centenas de manifestantes invadirem o prédio da casa legislativa nesta terça-feira (10). Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Proposta pelo presidente López Obrador, a reforma é controversa.
Enquanto o presidente diz que fortalecerá a democracia mexicana, críticos argumentam que pode levar a uma insegurança jurídica no país. A discussão do texto pelos senadores estava prevista para iniciar nesta quarta, mas foi adiantada.
No Senado, o partido governista Morena está a apenas uma cadeira de uma supermaioria necessária para aprovar reformas constitucionais. As manifestações acompanham uma greve dos funcionários do poder Judiciário, e se intensificaram com a discussão da reforma pelo Congresso mexicano.
Na semana passada, os deputados tiveram que votar o texto na quadra de um complexo esportivo após manifestantes bloquearem as entradas da Câmara. O projeto foi aprovado com ampla vantagem pela Câmara dos Deputados mexicana na semana passada.
Caso seja aprovada pelo Senado, a proposta vai para sanção do presidente Obrador. Reforma que dá voto direto a ministros da Suprema Corte no México deve ser aprovada Caso a reforma seja aprovada e sancionada, a população mexicana terá direito a votar para todos os cerca de sete mil cargos do Judiciário, inclusive para a Suprema Corte, tribunal máximo do país.
O projeto também reduziria os requisitos de experiência e de idade para os cargos. A reforma é defendida pelo presidente do México, López Obrador, e pela presidente eleita Claudia Sheinbaum, que assume em 1º de outubro. Entenda a reforma do Judiciário mais abaixo. Os defensores da reforma dizem que ela melhorará a democracia mexicana e ajudará a corrigir um sistema que não atende mais ao público.
López Obrador argumenta que a medida é necessária para responsabilizar os juízes e reduzir a corrupção.
Os críticos, no entanto, afirmam que a reforma poderia trazer insegurança jurídica ao país, encerraria as carreiras dos juízes e deixaria o poder à mercê do poder Executivo e da influência criminosa.
Também argumentam que a reforma não afetará promotores, policiais e Ministérios Públicos, os quais culpam como os verdadeiros responsáveis pela impunidade e corrupção. Atualmente, os juízes da Suprema Corte no México são indicados pelo presidente e depois confirmados pelo Senado.
A reforma também prevê a redução dos juízes da Suprema Corte, de 11 para nove, e reduzir pela metade o tempo de experiência necessário para se qualificar para posições ministeriais. A votação da reforma nesta terça foi marcada por protestos populares em frente ao Congresso mexicano.
Trabalhadores do Judiciário, que protestam amplamente contra a reforma por meio de manifestações e uma greve que já dura duas semanas, juntaram-se à população para bloquear a entrada do prédio da Câmara, o que fez os legisladores mudarem o local da sessão para um complexo esportivo, na Cidade do México. No sábado, um juiz havia ordenado à Câmara dos Deputados que suspendesse as discussões sobre a reforma, em resposta a preocupações com os direitos trabalhistas dos funcionários do Judiciário.
No entanto, o líder do partido Morena na Câmara dos Deputados, Ricardo Monreal, descartou a ordem do juiz como uma "interferência indevida e rude" e disse que os parlamentares continuariam com o debate. A reforma também causa tensão com os Estados Unidos e alertou investidores estrangeiros.
López Obrador "pausou" as relações do país com a embaixada dos EUA. Andrés Manuel López Obrador com Claudia Sheinbaum, em setembro de 2023 Henry Romero/Reuters Greve do Judiciário A Suprema Corte suspendeu suas atividades nesta terça por conta da votação da reforma na Câmara.
Por 8 votos a 3, o tribunal máximo mexicano se juntou à greve de milhares de trabalhadores do Judiciário. Com isso, cerca de mil empregados da Suprema Corte se juntaram aos juízes e funcionários de tribunais de vários estados mexicanos que estão em greve há duas semanas. A decisão dos juízes da Suprema Corte de aderir à paralisação nunca havia ocorrido antes na história da instituição, disse uma fonte da Suprema Corte à Reuters. Entenda a reforma A controversa reforma proposta por López Obrador e Claudia Sheinbaum propõe alterar a Constituição para que ministros da Suprema Corte, ministros do tribunal eleitoral, desembargadores e juízes de primeira instância passem a ser eleitos por voto direto da população mexicana. Além disso, caso a reforma seja aprovada, todas as pessoas que atualmente ocupam esses cargos terão que renunciar. O plano dos governistas é que a primeira eleição para escolher os membros do judiciário aconteça em junho de 2025. Como é hoje? O que a proposta diz? As críticas ao projeto O plano de López Obrador Como é hoje? Os juízes são escolhidos por um Conselho da Magistratura.
Já para ministros do Supremo há um processo que envolve o Executivo e o Legislativo.
O presidente indica uma lista tríplice.
Se nenhum dos nomes for aprovado pelo Senado, o presidente envia uma segunda lista tríplice.
Se novamente ninguém for aprovado, o presidente pode nomear livremente. O que a proposta diz? Para os juízes, a proposta é de eleição direta entre as pessoas que se candidatarem. Já para os cargos de ministros do Supremo e do Tribunal Eleitoral, a candidatura vai ser diferente: cada um dos poderes (Executivo, Legislativo e o próprio Supremo) vai apresentar uma lista com seus candidatos.
Haverá uma campanha nacional e uma votação em lista.
Os vencedores serão os nomeados. As críticas ao projeto De acordo com o jornal "Financial Times", apenas um país, a Bolívia, elege os juízes da Suprema Corte por voto direto dos eleitores. Rubens Glezer, professor da FGV e membro do grupo Supremo em Pauta, afirma que a forma mais comum é a indicação de nome pelo Executivo e aprovação pelo Legislativo. Uma das ideias por trás dessa forma de indicação, segundo ele, é "blindar" os juízes de pressões políticas das maiorias.
“Se houver votação para juiz da Suprema Corte, a tendência é que os eleitos sejam de regiões mais populosas, mas, nesse caso, como ficariam os direitos das pessoas de regiões menos populosas?”, afirma ele. Uma Suprema Corte deve funcionar como uma espécie de freio “aos excessos emocionais de conjuntura, que historicamente tendem a ser danosos a direitos de grupos vulneráveis, no curto prazo, e para a comunidade como um todo, no médio e longo prazo”, diz o professor. A lógica do modelo mais comum, pelo qual os ministros são indicados pelo poder Executivo e referendados pelo Legislativo, é que existe um crivo político para que o candidato seja escolhido, mas ele terá autonomia para exercer o cargo, segundo Glezer. A analista política mexicana Jimena Díaz aponta uma possível consequência problemática com a eleição de juízes de primeira instância: grupos organizados podem financiar uma eleição para juiz. "No México, por exemplo, tem crime organizado.
Esse é o exemplo mais nocivo, mas pode ser também financiamento do setor empresarial –as petroleiras, as farmacêuticas podem ter seu juiz, seu magistrado, seu ministro do Supremo", ela afirma. O plano de López Obrador A analista política Jimena Díaz diz que o grande arquiteto dessa reforma é o atual presidente López Obrador, que tem três propósitos políticos: Influenciar a pauta da campanha eleitoral —a reforma judicial não foi a única que ele enviou para o Congresso para ficar “engatilhada”; o presidente também encaminhou um mecanismo de paridade do salário mínimo com a inflação e mudanças na forma como funciona o setor elétrico; ambos foram tópicos das campanhas. Determinar qual vai ser a agenda da aliada dele, Claudia Sheinbaum.
“A força de Sheinbaum é totalmente derivada do endosso que ela recebeu do presidente.
As eleições, na prática, foram um referendo sobre López Obrador: as pessoas que gostam dele votar em Claudia.
Ela foi defensora das propostas, mas não sabemos o que vai fazer quando se sentar na cadeira.
Ela sabe que não vai poder se desvincular politicamente do presidente —se ela fizer isso, não vai conseguir governar”. Manter-se vivo politicamente.
Pelas regras eleitorais do México, López Obrador não pode voltar à presidência.
No entanto, diz Jimena, “ninguém pensa que ele vai para o rancho dele; a grande maioria dos deputados é fiel a ele, não a Cláudia.
Ele quer se manter vivo e manter viva sua agenda”, afirma ela.