Secretaria de Educação suspendeu as aulas da rede pública na tarde desta sexta-feira (20) e sábado (21).
Capital Rio Branco amanheceu coberto por fumaça nesta sexta-feira (20) Pedro Devani/Secom-AC Com a poluição em nível 'perigoso', as aulas da rede pública estadual do Acre voltaram a ser suspensas na tarde desta sexta-feira (20).
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE) disse que, devido ao agravamento dos índices de concentração de partículas no ar, foi decidido que os alunos fiquem em casa nesta sexta e sábado (21).
Participe do canal do g1 AC no WhatsApp A poluição do ar piorou ao longo da semana.
Nesta sexta, de acordo com a plataforma suíça IQAir, que utiliza sensores instalados em diversas localidades do planeta, a capital acreana tinha a concentração de partículas de 480 ?g/m³ (microgramas por metro cúbico), 32 vezes acima do índice considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde, que é de 15 ?g/m³ .
O número se iguala à medição do software Purple Air.
Os sensores apontam, inclusive, que o Índice de qualidade do ar (IQA) chegou a 1.045 IQA às 7h , sendo este o recorde desde o dia 6 de setembro, quando alcançou 922 ?g/m³. Para repor o calendário escolar, alguns colégios teriam aulas no sábado.
"A suspensão das atividades permanece até nova deliberação.
O governo continuará realizando o monitoramento contínuo dos parâmetros de qualidade do ar, e novas orientações serão emitidas conforme a evolução dos índices", diz parte do comunicado.
Esta é a segunda vez que os alunos da rede pública estadual ficam sem aulas por conta da fumaça que encobre o estado.
As atividades foram suspensas a primeira vez no último dia 5 e voltaram dia 11.
Segundo a IQAir, na segunda-feira (16), o ar foi avaliado como insalubre e apresentou a concentração de partículas de 65 ?g/m³ (microgramas por metro cúbico).
Por ter apresentado uma melhora, as escolas municipais, que atendem cerca de 22 mil alunos, voltaram às aulas. Na terça-feira (17), a concentração de material particulado ainda era considerada muito insalubre, e estava em 234 ?g/m³, número 15 vezes acima do índice apontado pela OMS, mas menor que o registrado nesta sexta.
Já na quarta (18), o nível de poluição aumentou ainda mais, apresentando 247 ?g/m³ de partículas.
Na quinta-feira (19), a capital acreana tinha concentração de partículas de 310 ?g/m³, às 9h, sendo 20 vezes acima do considerado aceitável. LEIA TAMBÉM: Mais de 22 mil alunos voltam às aulas após quase duas semanas de suspensão por conta da fumaça em Rio Branco Desde o dia 2 de setembro, o estado está encoberto por uma densa camada de fumaça causada pelas queimadas que têm ocorrido não apenas no Acre, mas também nos estados vizinhos, Amazonas e Rondônia, e nos países vizinhos, Peru e Bolívia, e se estabeleceu como uma das mais poluídas do país.
A classificação da IQ Air, plataforma que monitora a qualidade do ar, varia entre "Bom", "Moderado", "Insalubre para grupos sensíveis", "Insalubre", "Muito insalubre" e "Perigoso".
Desde o início do mês, o Acre tem vivenciado principalmente as três últimas. Levantamento aponta que incêndios já atingiram mais de 100 mil hectares no Acre Quais as causas de tanta fumaça? Segundo a pesquisadora, professora da Universidade Federal do Acre (Ufac) em Cruzeiro do Sul e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sonaira Silva, a principal origem da fumaça que encobre boa parte dos municípios acreanos vem do preparo de pastagens.
A especialista, que tem diversas pesquisas relacionadas a queimadas, porém, os incêndios florestais também estão contribuindo para que 2024 tenha um cenário intensificado de queimadas. Conforme o monitoramento via satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Acre já registrou 2.688 focos de queimadas no mês de setembro.
O número corresponde a 87% do acumulado do mês inteiro no ano passado. Para a professora, este ano pode ser o pior nos índices de incêndios.
De acordo com estudos atuais, Sonaira afirma que já foram destruídos mais de 100 mil hectares de vegetação este ano até o início de setembro. “A gente teve vários momentos de seca extrema, de picos de queimada muito altos, como desde 87, 1998, 2005, 2010.
Mas, geralmente, eles eram concentrados no leste, oeste, ou ali na parte central [do estado].
Então, não ocorriam de forma intensa em todo o Acre.
O que a gente está vendo em 2024, pode ser um dos piores, ou até o pior ano.
Está com um nível de queimada muito forte no estado inteiro, inclusive com incêndios florestais.
Se a gente pensar num fogo de pastagem ou de desmatamento, o principal município é Feijó e Tarauacá, Cruzeiro do Sul.
Mas, se a gente pensar no incêndio florestal, o fogo que está entrando na floresta, a gente tem municípios do Juruá e do Vale do Acre”, ressalta. Os municípios que formam o Vale do Rio Juruá registraram, em um curto período de tempo, um número elevado de queimadas e que chegaram a grandes proporções.
Em menos de 10 dias, dois incêndios atingiram trechos do Parque Nacional da Serra do Divisor, em Mâncio Lima, no início de setembro, com mais de 100 hectares de floresta destruídos.
No mesmo período, um outro incêndio atingiu uma área de mata na Vila Petencostes, em Cruzeiro do Sul, destruiu pelo menos 15 hectares de vegetação. “Quando o fogo entra na floresta, a gente tem um prejuízo não só pra biodiversidade e ecologia dessa floresta.
A gente fez um inventário em algumas dessas florestas e percebemos que elas não se recuperam mesmo depois de 20 anos.
A gente estima que, dependendo do tipo de floresta, o impacto em espécies que a gente usa para construção, dos tipos madeireiros, ou então até as madeireiras, espécies que dão açaí e buriti, artesanato ou medicina, essa quantidade que a gente usa no dia a dia amazônico, pode reduzir de 20 a 100% dependendo do tipo de floresta.
As florestas ali da Vila Pentecostes, que é um tipo muito sensível de floresta, endêmica, só existem nessas regiões isoladas, elas não são resistentes ao fogo.
A gente estima que ali elas podem ter uma mortalidade de até 50% dessas árvores”, alerta Sonaira. Incêndio atinge 110 hectares de vegetação na Serra do Divisor, no interior do Acre Possível solução Professora Sonaira Silva ressalta a necessidade de discutir o chamado 'calendário do fogo" Reprodução/Rede Amazônica Acre Uma possibilidade apontada pela professora para amenizar o número alarmante de queimadas no estado e, consequentemente, a nuvem de fumaça que encobre as cidades, é discutir o chamado “calendário do fogo”, período em que os órgãos de fiscalização ambiental concedem autorizações para a queimada no campo.
As autorizações para uso controlado do fogo estão suspensas desde 25 de julho por portaria do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac). O uso do fogo, segundo a pesquisadora, vai continuar sendo constante, porque muitas vezes os produtores rurais não têm acesso a novas tecnologias e precisam utilizar as queimadas como ferramenta de limpeza para renovação de lavoura, por exemplo.
Com isso, de acordo com a especialista, é preciso levar em conta possíveis períodos de seca extrema, que podem contribuir para a propagação descontrolada dos incêndios. “O fogo ainda é utilizado com uma ferramenta agrícola muito importante, muito usual, não só no Acre mas na Amazônia inteira, para reforma de pastagens, limpeza do desmatamento para fazer roçados.
Mas o manejo de pastagem ainda é o que utiliza mais e o que está causando mais fumaça e áreas queimadas.
A principal proposta que a gente tem, é que precisa mudar o calendário de fogo, principalmente nesses períodos de seca mais forte.
Talvez a gente não vai conseguir eliminar o fogo, porque muitos produtores não conseguem acesso a novas tecnologias, e ainda vã precisar usar o fogo.
Mas, que a gente mude esse calendário”, acrescenta. VÍDEOS: g1