Em algumas situações, armas foram usadas para intimidar pessoas em Fortaleza, e polícia fez apreensão dos brinquedos.
Polícia apreende armas de gel com dupla que tentou fugir de abordagem em Maracanaú As armas que disparam bolinhas de gel ganharam as periferias de grandes cidades com "batalhas" nas ruas que reúnem crianças e adultos.
Porém, o que era para ser uma forma de entretenimento, tem causado temor na população com o brinquedo que simula fuzis, pistolas e outros armamentos. Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp Em Fortaleza e na Região Metropolitana a polícia registrou ocorrências envolvendo as armas de gel.
O caso mais recente aconteceu no dia 13 de setembro, quando militares capturaram dois homens no Bairro Novo Maracanaú, em Maracanaú, que estavam com as armas de brinquedo. Polícia apreende armas de gel com dupla que tentou fugir de abordagem em Maracanaú. Polícia Militar/ Divulgação De acordo com a Polícia Militar, os agentes foram acionados para uma ocorrência de disparo de arma de fogo em via pública.
Durante buscas, os militares avistaram vários suspeitos em motos.
Houve perseguição e os dois homens foram abordados.
Na ocasião, a dupla foi apresentada na Delegacia Metropolitana de Maracanaú, onde foi registrado um termo circunstanciado de ocorrência (TCO) contra os homens por desobediência e direção perigosa.
Duas armas de gel que estavam com os suspeitos foram apreendidas. Quatro homens foram detidos pela polícia em Fortaleza por assustarem moradores com armas de brinquedo que simulam fuzis. Polícia Militar/ Divulgação Já no dia 11 de setembro, quatro armas de gel foram apreendidas e um grupo foi detido no Bonsucesso, na capital cearense.
Segundo a PM, os agentes do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) estavam em patrulhamento na região quando avistaram três motocicletas, cada uma com um passageiro portando, supostamente, armas longas. Os policiais deram ordem de parada, mas um dos motociclistas conseguiu fugir.
Nas outras duas motos foram abordadas quatro pessoas, que estavam com os brinquedos.
Três adultos, de 30, 28 e 19 anos, que já tinham antecedentes por diversos crimes, como roubo, tráfico, entre outros, foram apresentados no 32º Distrito Policial, onde houve registro de um Boletim de Ocorrência por crime contra a fé pública. Um adolescente de 16 anos foi apresentado na Delegacia da Criança e do Adolescente, onde foi registrado uma Ato Infracional contra ele com base na Lei de Contravenções Penais.
Em seguida, o jovem foi liberado na presença da mãe. Uso responsável A Polícia Militar afirmou para o g1 que por essas armas serem facilmente confundidas com uma arma de fogo são proibidas por lei a ‘comercialização, fabricação, venda ou até mesmo a importação de armas de brinquedo, ou réplicas’. O órgão reforça que, apesar de serem brinquedos, o porte e uso dessas armas devem ser feitos de forma responsável, visível e que não gere dúvidas quanto ao seu emprego. A Polícia Militar afirmou ainda que o uso indevido de armas de brinquedo pode gerar confusão e situações de risco, principalmente em locais públicos.
A pasta disse que tem registrado algumas ocorrências relacionadas ao uso dessas armas, que, em algumas situações, têm causado pânico em razão da sua semelhança com armas de fogo reais.
E garantiu que vai ficar monitorando e trabalhará conforme a lei para que o cidadão não seja prejudicado. “A Corporação seguirá monitorando o uso desses dispositivos e atuará dentro da lei para evitar incidentes que coloquem em perigo a segurança pública”. Comercialização não é crime A advogada de direito civil Andreza Lima explica que a comercialização das armas de brinquedo não é crime, porém a venda precisa seguir regras.
Ela afirma que por conta da semelhança com as armas reais pode prejudicar o trabalho policial, principalmente em emergências. “Por conta da semelhança com as armas reais, as pistolas podem ser consideradas também reais, sendo possível confundir não somente a população que vive nessas regiões onde esse tipo de brincadeira acontece, mas também policiais no seu patrulhamento diário ou em uma situação até mesmo de emergência”. Ainda segundo Andreza Lima, a exibição da arma em locais públicos pode causar temor as pessoas e ocasionar acidentes como, por exemplo, os de trânsito. “Esse tipo de brincadeira pode-se gerar vários problemas.
Desde o incidente de trânsito, ferimentos é até o mal-entendido.
Exibindo essa arma de brinquedo pode-se interpretar de várias formas.
Inclusive, se estão utilizando para a prática de algum crime”, afirmou. Punições graves A advogada civil reforça, por fim, que o uso desse tipo de arma pode trazer problemas jurídicos para crianças e adolescentes.
As punições vão de apreensão e se depender do caso pode haver a ida da criança ou jovem para um centro de internação. “Importante ressaltar que é vedada a utilização dessas armas por crianças e adolescentes.
Se alguma criança ou adolescente machucar uma pessoa, ela fica sujeita a punições definida pelo estatuto da Criança e do Adolescente.
O adolescente vai responder pela medida e poderá ser apreendido.
Lembrando que ele não responde por crime.
Ele vai responder por uma infração.” 'Naturalização da violência' O uso da arma de brinquedo não vai necessariamente moldar a personalidade de uma criança ou adolescente.
Para a psicóloga Natasha Gomes Barrocas a 'violência não vem das armas de brinquedo, mas as armas de brinquedo vêm de uma naturalização da violência'. “Não existe nenhuma pesquisa que comprove de que brincar com armas de brinquedo faz você se tornar uma pessoa violenta, certo? Mas o fato de, em algumas brincadeiras, a violência estar sempre presente, isso mostra a construção da nossa sociedade.
Porque as crianças brincam com o imaginário, então a arma é uma representação de algo, algo que mata, algo que pode destruir”, explica. Natasha Gomes diz que o que pode de fato influenciar uma criança a ser violenta na vida adulta, tem mais a ver com a educação que ela recebe, o ambiente que ela convive, os valores morais daquela família e ao nível de violência a qual ela foi exposta. “E as brincadeiras, o nível de competitividade nas brincadeiras têm a ver com o nível de competitividade que a sociedade está vivendo.
Então o problema não é o brincar, o problema é o mundo em que a gente está vivendo, que está cada vez mais violento, onde as pessoas perderam a ideia de coletivo, todos acham que são inimigos de todos e que a gente precisa se defender, cuidar e proteger o que é meu e, em qualquer ameaça, eu ataco para me defender”, afirma.
'Problema não é a arma, o problema é a violência' A psicóloga destaca que os altos índices de violência, desigualdade social e pobreza, além da falta de políticas públicas a educação são os fatores que podem influenciar a criança a ser violenta no futuro. “Hoje, se a gente para e olha e vê o aumento da violência no mundo, fica muito claro que o nível de desigualdade, de pobreza, de educação, vem interferindo.
Então quanto mais esses fatores crescem, a violência vem como uma consequência dessa desigualdade.
A gente pode olhar para a arma e pensar que ela pode ser, por exemplo, um símbolo de guerra também”, sustenta. “E se a gente for indo para mais antigamente, os meninos, as crianças, brincavam com espadas, que era outro simbolismo de um instrumento de guerra.
Então a brincadeira infantil, ela demonstra muito dos valores e do que acontece na sociedade naquele momento.
Então reitero, o problema não é a arma, o problema é a violência”, reforça. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará: