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Crise na Venezuela: 3 possíveis cenários para futuro do país após Supremo chancelar vitória de Maduro

Postado em 24 de Agosto de 2024


O que pode acontecer depois da previsível decisão do Supremo Tribunal de Justiça que valida a vitória de Nicolás Maduro? Manifestante venezuelana com o rosto pintado com as cores da bandeira Getty Images/via BBC Mais uma vez, as opções para resolver a crise da Venezuela parecem esgotadas. Por um lado, o poder de Nicolás Maduro continua: a coligação de forças institucionais que o mantêm no poder, incluindo as Forças Armadas, permanece coesa. Por outro lado, a oposição insiste em não perder a esperança de mudança e em pressionar de todas as formas: nas ruas, nos meios de comunicação, no mundo. Depois há uma comunidade internacional que tenta mediar entre as forças, mas cujas propostas foram rejeitadas por ambos os lados. Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Entretanto, a maioria dos venezuelanos vê que, tal como aconteceu em anos anteriores, a crise humanitária pode aprofundar-se se não houver soluções políticas. A decisão de quinta-feira (22/8) do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ), que validou a vitória de Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho, confirma a extensão do status quo, um cenário desejado por Maduro e sua cúpula. No entanto, a oposição liderada por María Corina Machado manterá a pressão para cumprir o que considera o mandato popular daquele 28 de julho, quando 70% dos venezuelanos, segundo as atas publicadas, manifestaram o desejo de mudança. O que está por vir agora? Os cenários propostos possuem diversas formas, são cheios de nuances e podem se sobrepor.

É até provável que, tal como aconteceu com a economia, a transição política ocorra de forma gradual, lenta e improvisada. Leia mais: Governo brasileiro diz que não assinou comunicado que refuta resultado por não concordar com o texto Oposição diz que não reconhecerá sentença da Suprema Corte sobre resultado da eleição O papel crucial de Rússia e China na sobrevivência de Maduro Por mais que tudo isto pareça familiar, a política venezuelana surpreende sempre.

Há semelhanças com experiências anteriores, sim, mas também elementos novos.

A resposta do governo é cada vez mais dura e radical, a oposição está forte e unida como nunca antes, o chavismo perdeu o apoio popular e as consequências da imigração transformam a crise numa crise internacional. Embora a decisão do TSJ, acusada de tendenciosa, busque resolver a questão, a crise está intacta.

E os serviços, a pobreza, a saúde, a educação e a violência pioram. A seguir, veja cenários gerais de onde a situação poderia chegar. 1.

As coisas são mantidas como estão O governo Maduro parece interessado em prolongar o estado de coisas: que a oposição se refugie das pressões políticas, judiciais e policiais, que a comunidade internacional perca o interesse e que as pessoas tenham de se resignar a resolver as suas vidas cotidianas. Para isso, o partido no poder precisa ganhar tempo. “O tempo hoje não é um vetor no qual as coisas acontecem, mas uma arma política numa disputa”, afirma Jesús “Chúo” Torrealba, ativista e ex-líder da oposição. Nas crises anteriores, o chavismo conseguiu ganhar tempo até que a crise passasse. Mas, segundo Torrealba, desta vez é mais difícil: “O governo já não é esta entidade todo-poderosa que define os termos.

Agora está na defensiva, agindo sem muita sofisticação, e a oposição está na ofensiva.” Uma oposição poderosa não se vai resignar com o fato de as coisas permanecerem iguais. Aí surge a possibilidade de que as coisas se deteriorem. “O governo aposta numa espécie de cenário intermediário entre o status quo e o aprofundamento”, afirma Mariano de Alba, advogado próximo da oposição e especialista em diplomacia. “Ele está disposto a aprofundar o autoritarismo se for necessário para tentar permanecer no poder, mas preferiria um status quo para evitar reações e decisões que na prática anulam as perspectivas de uma recuperação econômica, o que continuaria a aumentar o descontentamento das massas.” Costuma-se dizer que os venezuelanos já não têm nada a perder: que as suas famílias isoladas e os seus salários muito baixos são como chegar ao fundo do poço. Mas há outra coisa que se costuma dizer: sempre é possível ser pior. 2.

O aprofundamento Na verdade, o governo pode optar por uma crise mais aguda. Isso significaria aceitar que lhes sejam aplicadas mais sanções econômicas que os impeçam de vender petróleo ou os obriguem a vendê-lo mais barato, afetando o seu fluxo de caixa.

Que as suas famílias no exterior sejam perseguidas pelas autoridades internacionais.

Que não só os líderes, mas também os militares e funcionários públicos médios vejam as suas propriedades e vistos congelados. Poderia também traduzir-se em mais repressão não só contra a oposição e os seus ativistas, que acabariam isolados e anulados, mas também contra a população em geral, que não conseguiria expressar as suas opiniões em público, usar as redes sociais ou organizar-se em comunidade para resolver problemas cotidianos como coleta de lixo e distribuição de água. Isso, necessariamente, significaria um isolamento quase total da Venezuela no mundo, com a incapacidade de ter canais de comunicação com os governos vizinhos para enfrentar a crise migratória. A Colômbia seria particularmente afetada por isto, não só porque é o país que mais recebe migrantes venezuelanos, mas porque fez as suas apostas de paz com o Exército de Libertação Nacional na mediação de Maduro com as guerrilhas. Muitos veem nos casos de Cuba e da Nicarágua exemplos do que poderia ser um aprofundamento do autoritarismo na Venezuela, com uma oposição anulada e eleições sem concorrência. A Venezuela, porém, é um país maior e conectado com o mundo. As consequências de um aprofundamento das suas crises seriam de uma magnitude muito mais complexa do que aquela que a região tem visto na sua história recente. 3.

Algum tipo de transição Embora pareça o menos provável, uma transição na Venezuela não pode ser descartada. Se a crise se agravar, ou se houver um surto social da magnitude do Caracazo, acontecimento de 1989 que marcou a origem social do movimento político que resultou na vitória de Hugo Chávez em 1999, a possibilidade de romper o apoio a Maduro entre os militares e oficiais é maior. Além disso, sem dinheiro, as deserções são mais difíceis de evitar. “A oposição aposta numa ruptura dentro do governo que obrigue Maduro a negociar a sua saída”, afirma De Alba. “Tudo indica que o cálculo daqueles que apoiam Maduro continua a ser o de que preferem o status quo, e se a oposição também chegar a essa conclusão, faria bem em abrir-se ao que os negociadores propõem”. É neste cenário que desempenha um papel a comunidade internacional, que sob a liderança da Colômbia e do Brasil — governados por Gustavo Petro e Luiz Inácio Lula da Silva, que têm vias de diálogo com o chavismo – propôs novas eleições ou um governo de coabitação transitório. A oposição, em princípio, rejeitou estas iniciativas.

Também o governo.

Mas uma versão dessas propostas pode entrar na equação. Torrealba considera o cenário: “A única forma de aceitar novas eleições é que sejam precedidas de um governo de coligação, com substituição das autoridades militares e eleitorais e sem as condições desequilibradas e antidemocráticas em que decorreram as eleições (de julho)”. “A oposição poderá aceitar algo deste gênero porque é um fato que não tem forças para fazer valer o resultado das eleições do dia 28 e porque para a oposição é importante encontrar uma solução para a crise”, acrescenta. O resultado da crise é geralmente apresentado em termos preto e branco: ou eleições, ou governo de coligação, ou a saída de Maduro, ou o governo de Machado.

Contudo, não costumamos falar de versões variadas da transição que oferecem opções a todos.

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