A rota, que passa pela selva de Darien, na América Central, é monitorada por autoridades americanas e de outros países.
Quadrilhas de tráfico internacional de pessoas estão usando o Brasil como ponto de partida para levar imigrantes ilegais até os Estados Unidos. Reprodução/Jornal Nacional Quadrilhas de tráfico internacional de pessoas estão usando o Brasil como ponto de partida para levar imigrantes ilegais até os Estados Unidos.
Acampados dentro do Aeroporto Internacional de São Paulo, estrangeiros esperam entrar no Brasil como refugiados.
Na última quinta-feira (22), um novo recorde: 666 pessoas retidas.
A maioria vem da Índia, do Nepal e do Vietnã, mas de acordo com a PF, 97% não pretendem permanecer no Brasil.
Para essas pessoas, o Brasil é só o começo de uma viagem longa, que passa por até dez países e tem como destino, principalmente, os Estados Unidos.
O professor Jorge Boucinhas, especialista em migrações, diz que as violações aos direitos humanos e a pobreza estão entre os principais motivos que levam as pessoas a deixar seus países.
“Fazendo todo um percurso, grande parte da América do Sul, América Central, e enfrentando uma série de riscos e intempéries, eu acho que isso só evidencia o nível de desespero das pessoas que se expõem a todos esses riscos”, explica Jorge Boucinhas, professor da FGV EAESP.
Um dos trechos mais perigosos da rota até a América do Norte é a selva de Darién, entre a Colômbia e o Panamá.
Os imigrantes cruzam montanhas, rios e ficam à mercê de grupos criminosos.
No mês passado, os governos do Panamá e dos Estados Unidos assinaram um acordo para conter a migração pela floresta.
No dia 20 de agosto, um voo pago pelo governo americano deportou 30 colombianos.
Um relatório da Human Rights Watch aponta que 500 mil imigrantes cruzaram a selva de Darien, em 2023.
Muitos deles são vítimas de roubo, extorsão e estupro.
Segundo a diretora para as Américas da organização, esse número pode chegar a 800 mil neste ano pelo temor de um endurecimento da política migratória nos Estados Unidos, e também por causa do resultado das eleições na Venezuela.
"Na Venezuela, entre um milhão e meio e três milhões de pessoas disseram que se Maduro continuar no poder, preferem migrar." Aqui no Brasil, a Polícia Federal já mapeou várias rotas usadas pelos migrantes para sair do Brasil e tentar entrar nos Estados Unidos.
Em todas elas, há quadrilhas internacionais atuando.
Segundo as investigações, a ação criminosa começa no lugar onde a pessoa mora, onde os coiotes oferecem a viagem pela internet e fazem uma cobrança antecipada.
E em cada país por onde o viajante passa existe a promessa de que um integrante do grupo criminoso vai transportar essa pessoa até o próximo trecho da viagem.
O chefe da Divisão de Repressão ao Tráfico de Pessoas da PF diz que a chegada ao destino muitas vezes não é o fim da dívida com as quadrilhas.
“Muitas dessas pessoas são utilizadas também para levar drogas.
Outras que não têm condição de pagar integralmente o que um coiote pede, quando elas conseguem chegar nos EUA, elas são exploradas laboralmente.
O que configura para nós aqui o tráfico de pessoas”, diz Cristiano Eloi, chefe da Divisão de Repressão ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes da Polícia Federal.