Segundo governo de São Paulo, 46 municípios estão sendo monitorados e estão em alerta máximo para queimadas e pontos de fogo tiveram alta de 880% em relação a agosto de 2023 Imagem de drone mostra Ribeirão Preto coberta por fumaça de incêndios.
Reuters
"Moro aqui há 32 anos, e nunca, considerando todas as queimadas que já ocorreram na região, vivemos algo como o que estamos enfrentando agora", conta Cristina Aparecida Nardo, de 60 anos, residente de Ribeirão Preto (SP).
A fumaça provocada pelos incêndios tem coberto dezenas de cidades em várias regiões do Brasil nos últimos dias.
Em São Paulo, a situação se agravou na última sexta (23/8), quando o Estado registrou 1.886 focos de queimadas - mais dos que os 1.666 registrados durante todo o ano passado.
Em relação ao mesmo mês no ano passado, o aumento foi de mais de 880%.
Dois funcionários de uma usina em Urupês, região metropolitana de São José do Rio Preto, morreram enquanto combatiam as chamas. O Instituto Nacional de Pesquisas Espacias (Inpe) informa que o Brasil anotou 4.928 focos de calor.
Isso significa que apenas o Estado de São Paulo respondeu por 38% de todas as queimadas do país, conforme mostra comparativo feito pela empresa de metereologia MetSul.
LEIA TAMBÉM Céu escuro, voos cancelados e cidades em alerta: os incêndios no interior de SP Chamas destroem lavouras e causam prejuízo Fogo interrompe rave e 500 pessoas são atendidas após inalação de fumaça Segundo informações da Secretaria do Estado divulgadas neste domingo (25/8), 46 municípios estão sendo monitorados e estão em alerta máximo para queimadas. Cristina, moradora de Ribeirão Preto que trabalha no ramo imobiliário, sofre de asma e conta que a qualidade do ar piorou muito desde os incêndios começaram. As queimadas liberam substâncias tóxicas que irritam as narinas, olhos e garganta, além de atravessarem as células pulmonares e entrarem na circulação sanguínea.
Dessa forma, são distribuídas por todo o corpo, causando inflamação, especialmente em pessoas com problemas de saúde preexistentes. "Nunca vivi algo tão aterrorizante.
Havia tanta cinza e fuligem dentro dos apartamentos...
Mesmo com tudo fechado.
Falei para minha filha: 'Parece que o fogo está aqui dentro'.
É difícil respirar". "Tive que colocar um vaporizador ao meu lado durante a noite, e minha bombinha ficou debaixo do travesseiro.
Usei bastante.
É um remédio que eu pego na farmácia pela Farmácia Popular, e que peguei semana passada, mas já está quase acabando", diz ela. "Passei muito mal, e sei que muitas pessoas estão internadas por causa da qualidade do ar." Incêndios cobrem de fumaça vários municípios de São Paulo Imagens no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do INPE mostram que dez Estados brasileiros enfrentam uma acentuada piora na qualidade do ar devido a queimadas na Amazônia.
Alguns, como é o caso de São Paulo, têm focos de incêndios próprios, o que agrava a situação. O MetSul descreve que uma massa de ar seco e extremamente quente atuou no centro do Brasil na última semana e favoreceu temperaturas muito altas ainda no Sul e no Norte do Brasil com marcas perto e acima de 40ºC em vários Estados. "O tempo seco e quente contribuiu para um salto no número de queimadas, como se dá todos os anos nesta época que marca o auge da estação seca no centro do Brasil, mas a explosão de queimadas verificada em São Paulo não pode ser explicada apenas pelo clima e tem origem humana, o que deverá ser investigado pelas autoridades", diz o informe. São Paulo já registra chuvas em várias regiões, pela chegada de uma frente fria que colaborou para cessar a maioria dos focos de fogo no território do Estado.
Os ventos que acompanham a frente fria, no entanto, levaram a fumaça de queimadas para Goiás, Distrito Federal e o Estado de Minas Gerais. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou, em coletiva de imprensa, que foi criado um plano emergencial para ampliar a capacidade de atendimento das unidades de saúde na região de Ribeirão Preto.
Coordenado pela Secretaria de Estado da Saúde e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP-USP), o pacote de ações apresentado aos 26 municípios da região prevê a ampliação dos serviços de telemedicina, com médicos do HC que ficarão disponíveis 24h por dia para orientar as equipes de saúde e encaminhar os casos mais graves para hospitais de referência. Ainda no sábado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o evento extremo em São Paulo é mais "uma emergência climática enfrentada pelo país" e afirmou ter conversado com o governador e acertado o envio de aviões para combater os incêndios. "O governo federal, por meio do Ministério da Defesa, também está enviando aviões para combater o fogo.
É importantíssima a decisão do governador de montar uma sala de situação e mobilizar todos os recursos do governo estadual", disse Marina. Área afetada por incêndios florestais próximo à rodovia SP-215 em São Carlos (SP). Getty Images via BBC Efeitos nocivos à saúde As queimadas liberam substâncias perigosas para a saúde humana e animal.
De acordo com pneumologistas consultados pela BBC News Brasil, a fumaça contém materiais tóxicos, como dioxinas e metais pesados, além de partículas finas que podem ser inaladas, causando problemas respiratórios graves, sobretudo para quem já tem doenças pré-existentes.
Gases tóxicos, como monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio, também são liberados, aumentando o risco e agravando doenças pulmonares e cardiovasculares.
Os poluentes podem se espalhar por grandes distâncias, impactando a saúde em regiões distantes de onde os incêndios ocorreram. "As partículas finas e os elementos químicos presentes na poluição ultrapassam as células pulmonares (alvéolos) e entram na circulação sanguínea, sendo distribuídos por todo o corpo.
Isso causa inflamação nos vasos sanguíneos, aumentando o risco de pressão alta, arritmias e até infarto agudo do miocárdio", afirma Mauro Gomes, pneumologista e membro do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP). "Portanto, a poluição prejudica não apenas os pulmões, mas também o coração e a circulação", segue Gomes. Marina Silva: Há forte suspeita de novo 'Dia do Fogo' Quanto mais próxima de pessoas que estiverem no centro de queima, maior o risco de inalação. "Pessoas com doenças crônicas, como asma, bronquite, enfisema, rinite, rinossinusite ou problemas cardiovasculares, são especialmente vulneráveis à inalação de fumaça.
É crucial monitorar esses grupos nas semanas e meses seguintes, pois os efeitos inflamatórios podem surgir com atraso, agravando outras condições crônicas", explica Ubiratan Santos, pneumologista e membro da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia). Mas quem não tem doenças subjacentes também pode sofrer os efeitos, que incluem olhos vermelhos e irritação nos olhos, nariz e garganta. Os especialistas aconselham evitar a exposição desnecessária à fumaça, ficando em ambiente fechado quando possível, e ao sair na rua, usar máscara (especialmente o modelo N95, que se tornou popular durante a pandemia de covid, por sua capacidade de filtrar partículas finas). "Em relação à proteção em casa, as janelas e portas devem ficar fechadas, e mesmo assim pode ser difícil impedir completamente a entrada de ar poluído, especialmente se houver frestas", afirma Gomes. O médico recomenda usar umidificador, ou, na falta do acessório, bacias de água e panos molhados pela casa.
Outras recomendações para quem mora em áreas afetadas estão listadas abaixo. Um homem observa um incêndio em uma plantação de cana-de-açúcar perto da cidade de Dumont. Getty Images via BBC Recomendações para a saúde Autoridades de São Paulo oferece recomendações de saúde e segurança (veja abaixo) que valem para todas as localidades do país em caso de contato com fumaça de incêndios: Pacientes com asma, DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e rinite alérgica devem manter o tratamento regular com sua medicação inalatória (bombinhas); Quem não faz uso frequente, deve utilizar a bombinha regularmente, neste momento, para o tratamento para asma ou rinite, antes dos sintomas se agravarem; Obter medicação usada em quadros críticos anteriores e utilizar o mais cedo possível, caso iniciem sintomas respiratórios; Se possível, não sair de casa.
Vedar portas e janelas; Se precisar sair de casa, usar máscara, preferencialmente, PFF2/N95; Evitar locais com grande concentração de fumaça.
A fumaça é tóxica e pode causar problemas respiratórios imediatamente; Quem tiver contato direto próximo a áreas de queimada, se apresentar sintomas respiratórios como falta de ar, chiado no peito, tonturas, dor de cabeça, procurar atendimento médico; Beber água.
A hidratação é muito importante para a via aérea.
Atenção especial com crianças e idosos, pelo maior risco de desidratação; Lavar o nariz e olhos com soro fisiológico; Umidificadores podem ser usados, mas precisam ser limpos diariamente.
Usar toalhas molhadas e bacias com água, caso não tenha umidificador em casa; Suspender a prática de atividade física ao ar livre nos próximos dias. Orientações gerais à população Ao avistar um foco de incêndio ou fumaça densa, saia imediatamente da área e busque abrigo seguro.
Informe o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil; Redobre a atenção ao dirigir; Evite atravessar áreas com cortinas de fumaça e fogo.
Caso seja inevitável, reduza a velocidade, mantenha os faróis baixos acesos e uma distância segura do veículo à frente; Evite se deslocar pelas rodovias e rotas com interdições.
Se for necessário, busque rotas alternativas seguras; Não solte balões.
Balões que usam fogo podem provocar incêndios florestais; Evite acender fogueiras, especialmente próximo às matas e florestas; Não utilizar o fogo para fazer limpeza de terrenos ou queimar lixo.
Faça descarte adequado de seus resíduos; Queimas controladas devem ser feitas somente em período permitido e com autorização da autoridade local responsável; Em propriedades rurais, construa e mantenha aceiros limpos para evitar a propagação do fogo, principalmente próximo às estradas e rodovias e às áreas florestais.