Indicação nacional ainda é de que mulheres com HIV não devem amamentar, mas em nova pesquisa colostro coletado de mulheres não apresentava o vírus quando o tratamento era feito da forma correta.
Pesquisa da Unirio indica que leite materno de mulheres com HIV podem não contaminar bebês Uma pesquisa da Unirio aponta que, quando tratamento é feito da maneira correta, o leite materno de mulheres com HIV pode não contaminar os bebês.
Trinta mães participaram da pesquisa e, de 14 amostras analisadas, apenas uma apresentava a carga viral.
Segundo os pesquisadores, essa amostra que estava contaminada pertencia a uma mulher que tinha abandonado o tratamento por volta de 34ª semana de gestação.
Nas outras, o vírus não estava detectável e todas elas mantinham o uso contínuo da terapia antirretroviral.
Yasmin Nickoli Silva é mãe do pequeno Jonathan Samuel, de 1 mês, e ainda se emociona ao lembrar do momento em que soube que não poderia amamentar o filho.
“Desde o início eu já sabia que não poderia amamentar e, pra mim, foi bem difícil.
Eu cheguei em casa e tive crise de choro, chorava muito por conta disso”, desabafa a manicure.
A jovem foi diagnosticada com HIV há cinco anos e participou do estudo feito pela Unirio.
Em média, ela gasta R$ 700 por mês com leite e água mineral para alimentar o bebê.
“O leite materno é uma coisa que é única para qualquer criança e no nosso caso a gente não consegue passar isso para os filhos”, lamenta a jovem.
Os médicos do Hospital Gaffrée Guinle analisaram o colostro, que é o primeiro leite a ser produzido após o parto, de mulheres que vivem com HIV.
As que estavam com o tratamento em dia, o vírus permaneceu indetectável.
Nos Estados Unidos, as diretrizes já foram atualizadas para permitir a amamentação de mães com HIV, desde que a carga viral esteja indetectável.
"Nós fomos muito felizes com os resultados que obtivemos até hoje.
E principalmente da satisfação das pacientes em participar, o projeto contou com uma empatia muito grande porque é um momento muito complexo da vida delas", afirma a pesquisadora Raphaela Barbosa.
Yasmin Nickoli e seu filho de 1 mês Reprodução/TV Globo A pesquisa continua em andamento e vai coletar novos dados para dar mais confiabilidade científica, já que os resultados são preliminares.
“O avanço é ter um estudo como esse no país, porque essa é uma determinação antiga e que não se questionava.
Por que essas mulheres que vivem com HIV não podem amamentar se quando a carga viral está indetectável é possível até o sexo sem preservativo?”, questiona o professor e pesquisador Rafael Braga.
“Queremos contribuir para que fique muito claro para a sociedade, para o Ministério da Saúde, para poder liberar amamentação para essas mulheres que são invisíveis, ninguém sabe do drama delas”, completa ele.
Para Yasmin, o estudo significa esperança.
"Lá na frente eu vou conseguir amamentar e outras mulheres que estão agora gestantes, que tem soropositivo, acredito que vão chegar lá e vão conseguir fazer com que amamentem sem transmitir o vírus para os filhos”, afirma a jovem.