Investigação aponta que o esquema de lavagem de dinheiro permitiu o financiamento de vários crimes, incluindo o tráfico de drogas.
UPBus é suspeita de envolvimento com a quadrilha.
Entenda o esquema que usava contas em bancos tradicionais para enganar sistema financeiro A organização criminosa investigada pela Polícia Federal (PF) na Operação Concierge, suspeita de fraude bilionária com o uso de fintechs, teria ocultado valores e lavado dinheiro do crime organizado, incluindo o tráfico de drogas, segundo a investigação. Na decisão que autorizou os 17 mandados de prisão cautelar e os 60 mandados de busca e apreensão, consta ao menos dois vínculos entre fintechs e o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que atua em São Paulo (SP). Receba as notícias do g1 Campinas no WhatsApp Segundo a PF, a forma de atuação da organização criminosa era parecida em quase todas as transações.
A suspeita é que os investigados utilizavam contas nas fintechs e operações a partir de máquinas de cartão de crédito para movimentar valores sem que esses entrassem no sistema financeiro oficial. Com essa "invisibilidade", o dinheiro ficava imune a bloqueios judiciais de processos criminais de lavagem de dinheiro e de ações tributárias de dívidas ativas.
"Esse esquema de lavagem de capitais permitiu o financiamento e, portanto, a continuidade de inúmeros crimes antecedentes, já expostos, sendo um deles o de tráfico de entorpecentes, gerando prejuízos sociais imensos", diz parecer do Ministério Público Federal. Veja abaixo a relação entre as fintechs e seus sócios com a facção criminosa: UPBus O primeiro apontamento é em relação à UPBus, empresa de ônibus investigada pelo Ministério Público Estadual por suspeita de lavar dinheiro do tráfico de drogas.
A investigação da PF aponta que a UPBus utilizou a fintech T10 bank, de Campinas (SP), para esconder dinheiro do sistema financeiro e assim evitar bloqueio deles. De acordo com a PF, essa blindagem do dinheiro era necessária porque, além de ser alvo de investigação criminal, a empresa ainda tem dívida milionária de impostos com a Receita. "O fato de a empresa UPBUS possuir mais de R$ 61 milhões em débitos tributários inscritos em dívida ativa da União, justificaria a utilização dos “serviços” fornecidos pela T10 BANK, de “impenhorabilidade” de suas contas bancárias”, diz. Como conclusão, a Polícia Federal aponta em que há indícios que a T10 Bank atuou para blindar o dinheiro de tráfico de drogas do PCC de possíveis bloqueios judiciais. Procurada pela reportagem, a UPBus não respondeu até a última atualização desta reportagem.
A T10 Bank ainda não se manifestou sobre a operação e não retornou nossos contatos. Sócio oculto Sócio da T10 Bank, Denis Arruda Ribeiro é apontada pela Polícia Federal como suspeito de ligação com a facção criminosa.
Segundo a investigação, ele é sócio oculto da Yespay, uma fintech investigada por lavar dinheiro de criminosos ligados ao PCC. O outro sócio oculto da Yespay seria, segundo a investigação, Aedi Cordeiro.
No relatório, a Polícia Federal afirma que os dois, usando pessoas jurídicas de fachadas, operavam na lavagem de dinheiro. “A estreita relação entre Aedi Cordeiro dos Santos e Denis Arruda Ribeiro fazendo o uso de pessoas jurídicas de fachada para operar o branqueamento de capitais para terceiros e obter lucro, ainda que seus clientes sejam integrantes da facção criminosa paulista (PCC)". Ao g1, a defesa de Aedi afirmou que não é sócio oculto desse empresa de pagamentos.
"Ele é contador.
Não tem envolvimento com as operações dessa empresa.
A inocência dele será esclarecida no curso da investigação", diz a nota assinada pelos advogados Danilo Campagnollo Bueno e José Sérgio do Nascimento Júnior. Uso de máquinas da Inovepay Ainda segundo a investigação, as máquinas de cartão de crédito da Inovepay, fintech alvo da operação nesta quarta-feira, foram utilizadas por empresas de fachada e pessoas físicas ligadas ao tráfico de drogas. Um dos suspeitos de envolvimento com o PCC recebeu R$ 700 mil a partir de máquinas da Inovepay sem isso constar no extrato de operações. "Ficou claro que as movimentações financeiras realizadas por intermédio da T10 BANK e da InovePAY eram destinadas à ocultação e dissimulação de patrimônio proveniente de crimes como tráfico de entorpecentes e sonegação tributária, dentre outros", diz um parecer Ministério Público Federal. Ao g1, a Inove Global Group, dona da Inove Pay, negou "veementemente" os fatos imputados pela Polícia Federal e ressaltou que as medidas tomadas pela investigação "foram unilaterais, sem que os argumentos da empresa fossem ouvidos". "Comprometidos com princípios éticos, o Inove Global Group e seu sócio atuam no ramo da tecnologia ligada a meios de pagamento há mais de sete anos, buscando trazer inovação e acessibilidade para seus clientes, e jamais estiveram ligados a qualquer atividade criminosa, colocando-se à disposição das autoridades para colaborar com o deslinde das investigações, a fim de que os fatos sejam esclarecidos em sua integralidade", diz a nota. A operação A Operação Concierge foi flagrada na manhã desta quarta-feira.
As 14 prisões foram feitas nas casas dos investigados em Campinas (SP), São Paulo (SP), Ilhabela (SP), Sorocaba (SP) e Americana (SP).
As apreensões ocorreram em vários estabelecimentos, incluindo lojas de veículos.
A Justiça ainda autorizou o bloqueio de R$ 850 milhões em contas associadas à organização criminosa. Sob escolta, carros de luxo apreendidos foram levados ao longo do dia para o pátio da PF em Campinas e para um estacionamento alugado pela corporação.
São utilitários esportivos e carros esportivos de marcas de luxo, como Porsche, Land Rover, BMW, Volvo e Mercedes-Benz. Carros apreendidos chegam ao pátio da Polícia Federal em Campinas Márcio Silveira/EPTV Ainda de acordo com a PF, os agentes também apreenderam jóias, relógios e centenas de máquinas de cartão de crédito, além de documentos, celulares e computadores.
Os itens devem passar por perícia e depois ficarão depositados em uma conta judicial. Sócios das empresas entre os presos O g1 apurou que as empresas investigadas na operação são a Inovebanco e a T10 Bank.
Os sócios das duas companhias, Patrick Burnett e José Rodrigues, respectivamente, foram presos nesta quarta. Patrick Burnett, CEO do Inovebanco, e José Rodrigues, fundador do T10 Bank Reprodução A EPTV, afiliada da TV Globo, e o g1 tentaram contato com a T10 Bank para tentar um posicionamento da defesa, mas não tiveram retorno.
A Inove Global Group afirmou que os advogados da empresa tiveram acesso ao conteúdo da investigação nesta quinta.
"A empresa nega veementemente ter relação com os fatos mencionados pelas autoridades policiais e veiculados pela imprensa, o que ficará demonstrado ao longo do processo.
E ressalta sua total disposição em colaborar com as investigações", diz a Inove, em nota. Como funcionava o esquema? As fintechs investigadas possuem uma conta corrente como pessoa jurídica em um banco comercial tradicional.
Essa conta é chamada de “bolsão” e serve para fazer transações com o dinheiro de seus clientes de forma “invisível”, pois é praticamente impossível rastreá-las.
Veja o exemplo abaixo: A pessoa física “A” tem contas bloqueadas e quer se manter ativa no mercado financeiro, fazendo transações, recebendo e enviando valores.
Ela, então, abre uma conta com a fintech e a controla por meio de um aplicativo; Essa pessoa “A” faz uma transferência para a pessoa “B” por meio desse aplicativo; A fintech, por sua vez, tem uma conta corrente como pessoa jurídica em um banco comercial tradicional; Quando transfere um valor para a pessoa “B” por meio da fintech, na verdade, a pessoa “A” está transferido para a conta jurídica que a fintech tem no banco comercial. Como a pessoa “A” não tem vínculo com o banco comercial, seu nome não aparecerá no extrato, mas, sim, a fintech titular da conta.
A transferência para a pessoa “B”, por sua vez, aparece no extrato tendo como origem a pessoa jurídica da fintech e não a pessoa “A”.
Nesse esquema, a pessoa “A” fica invisível e pode manter seu patrimônio livre de restrições. A investigação aponta que o volume de dinheiro movimentado a crédito pelas duas fintechs, entre 2020 e 2023, foi de R$ 3,5 bilhões, segundo a Polícia Federal. 'Concierge' Os investigados vão responder por gestão fraudulenta de instituições financeiras, operação de instituição financeira não autorizada, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa.
O nome da operação, "Concierge", é uma palavra francesa que denomina o profissional que atende necessidades específicas de clientes e faz alusão à oferta de serviços clandestinos para ocultação de capitais.
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