Além da grande contribuição para a cultura santarena, Renato Sussuarana foi vereador por 18 anos, em uma época em que esse trabalho não era remunerado.
Renato Sussuarana lançou seu primeiro livro 'Papagaio de Papel de Seda' Reprodução Santarém, oeste do Pará, conhecida como a Pérola do Tapajós, é uma cidade que pulsa com a cultura e a história de seu povo.
Entre os muitos filhos ilustres desta terra, vamos conhecer a história de dedicação do multitalentos Renato Aurélio Carvalho Sussuarana, um homem cujas raízes profundas e amor pela cidade moldaram sua trajetória como poeta, escritor, educador, político e, acima de tudo, defensor da cultura local.
Uma verdadeira lenda viva.
Nascido em Santarém, Filho de Felisberto Jaguar Sussuarana e Antônia Cecy Carvalho Sussuarana, Renato é casado com Enoe Nascimento Sussuarana e pai de Cecy Oneida Nascimento Sussuarana. Clique aqui e siga o canal g1 Santarém e Região no WhatsApp Influência familiar Renato Sussuarana credita grande parte de sua trajetória cultural e artística à forte influência de sua família, especialmente de seu pai, Felisberto, e de seu avô, professor Carvalho.
Ambos foram figuras importantes na educação e na arte em Santarém.
"A minha família todinha era uma família de pessoas que gostavam de trabalhar com arte, com cultura", destacou. Felisberto Sussuarana, pai de Renato, foi poeta, teatrólogo, filólogo, professor de português e músico, e transmitiu esses valores artísticos para seus filhos.
Renato também relembra o papel significativo de seu avô, que além de professor, era artesão, envolvido na fundação de um colégio em Santarém.
A influência artística da família se manifestou em todos os irmãos de Renato, que seguiram caminhos na literatura e nas artes plásticas. Apesar das dificuldades financeiras que levaram ao fechamento do Ginásio Barão do Rio Branco, fundado por seu avô e posteriormente administrado por seu pai, a dedicação à educação e à cultura permaneceu na vida de Renato.
Ele revela ainda a existência de 120 livros inéditos escritos por seu irmão, Pedro Alberto Sussuarana, que aguardam uma oportunidade para publicação.
Esses livros, que abrangem poemas, peças de teatro, crônicas e contos, representam um valioso patrimônio cultural da região. Os valores herdados Renato destaca a humildade como o valor mais marcante transmitido por seus pais, Felisberto e Antônia.
"Primeiro, a humildade deles, pessoas humildes, pessoas muito inteligentes, mais humildes", reforçou. Apesar das adversidades enfrentadas desde a infância, como a perda precoce de seu pai aos quatro anos e a saudade de um avô que faleceu antes de seu nascimento, Renato encontrou na obra de seus familiares a inspiração para seguir adiante.
"O legado que ele (pai) me deixou foi o que restou da obra dele, que a gente leu, que a gente viu, e o que meu irmão mais velho me contava", relatou Renato reconhece que o maior legado foi, de fato, a vontade de continuar o trabalho artístico iniciado por seus pais e avós.
A presença constante de sua família foi importante para que ele pudesse se dedicar à arte e à cultura.
"A preocupação deles é sempre grande, mas é reconfortante saber que posso contar com o apoio da minha família para prosseguir com projetos que beneficiam nossa cidade”, comentou. Projetos culturais de impacto Renato conta que elaborou recentemente dois projetos: o primeiro é o "Museu Itinerante".
De acordo com o artista este projeto tem como objetivo levar a cultura de Santarém para dentro das escolas, utilizando réplicas de peças de cerâmica do Centro Cultural João Fona.
Com o "Museu Itinerante", os alunos têm a oportunidade de conhecer a rica história cultural de Santarém, que remonta a milhares de anos.
“A ideia é que as crianças possam visualizar e entender a importância de nossa cultura desde cedo”, explicou o artista. O segundo projeto é o "Resgatão", uma ideia inovadora que busca resgatar e preservar o folclore local.
Com o "Resgatão", o artista pretende relembrar e reintroduzir elementos tradicionais da cultura santarena que estão desaparecendo, como danças e brincadeiras típicas.
“Queremos devolver à comunidade um pouco do que foi perdido com o tempo”, afirmou. Desafios e conquistas como vereador em Santarém Renato ajudou a projetar as primeiras praças que embelezam a cidade de Santarém.
A foto mostra a construção da praça apelidada como 'Os três patetas Reprodução Além de sua contribuição cultural, Renato também teve uma carreira pública marcante.
"Foram 18 anos com o mandato de vereador...
E ali não tinha incompatibilidade de horário" , contou Renato, que também atuou como secretário de obras do município entre 1969 e 1971.
Seu trabalho possibilitou a construção de praças, escolas e outras obras que ainda hoje beneficiam os moradores de Santarém. Renato conta que naquela época, os vereadores não recebiam remuneração.
Sua função era colaborar com o município de forma voluntária.
Santarém ainda estava em transição política, saindo do controle federal para ser administrada pelo estado.
O processo de municipalização trouxe novas oportunidades e desafios. Quando era secretário de obras, Renato esteve à frente de várias construções de escolas e praças, como, por exemplo, a Praça Rodrigues dos Santos e a Praça da Liberdade, esta última recebeu um monumento que simboliza a liberdade e a comunicação.
Praça da Liberdade, no bairro Liberdade também foi trabalho de Renato Sussuarana Reprodução A Praça da Liberdade foi construída com a ideia inicial de representar a Amazônia como um bastião de proteção das fronteiras, mas a obra enfrentou resistência política e foi renomeada para refletir o sentido de liberdade associado à abertura da rodovia Santarém-Cuiabá. A Praça da Liberdade, em particular, representa a conquista da liberdade de mobilidade e comunicação para a população local. O impacto do esporte na vida de Renato Sussuarana Renato Sussuarana é apaixonado por esporte, tanto que hoje é um dos nomes mais conhecidos no cenário esportivo de Santarém.
Desde os tempos de estudante no Frei Ambrósio, ele revelou uma paixão intensa por diversas modalidades esportivas, como corrida de estafetas (revezamento), salto em altura, salto em distância e, claro, futebol.
Segundo Renato, o pai dele foi pioneiro na introdução do futebol na cidade.
"Ele trouxe o futebol, que havia sido criado na Inglaterra sob o nome de Futebol Association, de Belém para Santarém", contou.
O primeiro jogo de futebol em Santarém aconteceu em um campo que, na época, era apenas um terreno sem mangueiras, contra uma seleção formada por marinheiros ingleses e brasileiros a bordo do navio Viper.
O time de Santarém, foi treinado pelo pai de Renato e saiu vitorioso por 3 a 1, marcando o início de uma nova era esportiva na cidade. Além de ser um jogador apaixonado, Renato desempenhou papéis importantes na administração do esporte em Santarém.
Ele atuou como diretor e presidente do Fulminense, além de presidir o Bola Branca e o Norte Clube.
Na liderança do Fluminense, ele ajudou a construir a Escola Municipal Fluminense, apoiada por doações e parcerias com empresários. A escola, inicialmente mantida pela renda de eventos e festas, cresceu a ponto de precisar do apoio do município.
Renato, então secretário de serviços urbanos, conseguiu comprar um terreno para a construção de uma nova sede para a escola, com o apoio do prefeito Paulo Lisboa.
Hoje, a escola Fluminense é uma das mais renomadas de Santarém, com mais de mil alunos e um alto padrão educacional. Contribuições no carnaval de Santarém Renato Sussuarana na alegoria do carnaval de Santarém Reprodução/ Blog do Padre Sidney Apaixonado pela cultura, Renato Sussuarana também contribuiu para o desenvolvimento e oficialização do carnaval na cidade. Nos anos 70, Santarém vivia um momento de transformação no cenário carnavalesco.
Até então, os eventos de carnaval eram modestos, com desfiles informais e pouca estrutura.
Foi nesse contexto que Renato com um amigo, introduziram a ideia das escolas de samba, trazendo uma nova perspectiva para o carnaval no município.
Utilizando instrumentos improvisados feitos de caixinhas de madeira e pedras, Laurimar Leal e Renato começaram a sonhar com um carnaval mais grandioso. O momento decisivo ocorreu quando Laurimar criou o grupo "Ases do Samba".
Inicialmente, o nome foi sugerido por um amigo, mas foi Renato quem fez a mudança para "Ases do Samba", um nome mais acessível e cativante.
A ideia ganhou força, e com o apoio do então prefeito Everaldo Martins, o carnaval começou a se transformar em um evento oficial e organizado. Alegoria Ases do Samba Reprodução/ Blog do Padre Sidney No governo seguinte, de Paulo Lisboa, a estrutura do carnaval foi aprimorada com alegorias e fantasias, marcando o início de desfiles oficiais que encantaram a população.
O desfile na Barão do Rio Branco se tornou um espetáculo aguardado, atraindo espectadores que não se importavam com o tempo e acompanhavam o desfile com muita alegria.
Com a evolução do carnaval, o evento gerou empregos e oportunidades para diversos profissionais na época, como carpinteiros, costureiras e artistas, movimentando a economia da cidade.
Com o passar dos anos, o carnaval em Santarém passou por mudanças e desafios, e o evento de enredo deu lugar a novos formatos e celebrações.
Academia de Letras e Artes de Santarém Para Renato Sussuarana, ocupante da cadeira número três da Academia de Letras e Artes de Santarém (Alas), a academia não é um espaço de comércio, mas um bastião de incentivo e zelo pela cultura santarena. Sussuarana enfatiza que a principal função da Alas é a preservação da memória cultural da cidade.
"A finalidade da Academia é zelar pela cultura, incentivar e apoiar eventos culturais, mas não patrocinar ou realizar eventos," explicou.
Renato disse ainda que a academia se dedica a guardar a cultura e a memória por meio dos patronos, que estão associados às cadeiras da instituição.
Esses patronos, como Paulo Rodrigues dos Santos e Felisbelo Jaguar Sussuarana, foram fundamentais para a literatura e a cultura, mas não viveram da arte. Renato exemplifica isso com a sua própria experiência ao publicar livros, ressaltando que o objetivo é promover a cultura e não obter lucro.
"Distribuímos nossos livros em escolas para ajudar a cultura, não para lucrar", afirmou. Para Renato, ocupar a cadeira número três, que homenageia seu avô, Antônio Batista Belo de Carvalho, é uma grande honra.
Ele destaca que seu avô foi um multifacetado artista e professor, cuja obra ainda é lembrada e respeitada na cidade.
"Meu avô foi piroteca, professor de matemática, artista plástico e artesão.
Sua obra, o altar da Igreja de Alter do Chão, é um legado que persiste até hoje," comentou com orgulho. Livro "Papagaios de Papel de Seda" Renato Sussuarana lançou seu primeiro livro 'Papagaio de Papel de Seda' Reprodução/TV Tapajós O recém-lançado livro "Papagaios de Papel de Seda" é obra de Renato Sussuarana, que carrega em suas páginas uma profunda conexão com suas lembranças de infância e sua trajetória pessoal.
O livro nasceu de uma memória que remonta à sua infância.
"Pelo menos esse, eu sonhava desde muitos anos atrás, desde 5 anos".
A capa do livro, que ele mesmo desenhou em 1970 no Centro Cultural de João Fona, é uma lembrança daquele período.
Os poemas, selecionados de uma coleção que ele já possuía, foram inspirados pela prática de fabricar papagaios na juventude, uma atividade que Renato realizava para vender e faturar uns trocados. Ele explica que, durante sua infância, fabricava papagaios para a diversão dos internos de um colégio, e essa experiência se transformou em uma metáfora para o livro.
"Porque a brincadeira de papagaio, desde que seja distante da fiação elétrica, que não leve perigo para ninguém, é um poema.
Quem lê o livro vai entender o que tem nele, porque eu falo um pouco de família, amigos e muito da cidade", contou Renato.
Seus poemas longos exploram a história da cidade, os sobrenomes das famílias e as transformações que Santarém sofreu ao longo do tempo.
Assim, "Papagaios de Papel de Seda" se torna uma obra que não só celebra a poesia, mas também oferece uma visão íntima da história e da cultura local. Para o futuro, Renato projeta o lançamento de um livro de contos, uma coleção de sonetos e um volume dedicado exclusivamente a poemas sobre Maria.
Cada obra reflete a rica experiência e o profundo amor do escritor pela poesia e pela narrativa. Legado Renato Sussuarana, compartilha sua visão sobre o legado que deseja deixar para as futuras gerações. “Eu quero ser lembrado com sabedoria, paixão, amor e dedicação, e principalmente cultivar e preservar a rica herança cultural da cidade, é assim que eu quero ser lembrado”. Para o artista, é essencial incentivar a juventude a valorizar a literatura, o teatro, a música e as artes plásticas, pois são essas expressões artísticas que conectam o passado ao presente e garantem a continuidade das tradições.
Exemplo disso é o Centro Cultural de João Fona, construído há 171 anos, e que até hoje ainda mantém suas características originais. Além de preservação cultural, preservar o patrimônio arquitetônico é manter a beleza e a história da cidade para atrair visitantes que buscam experiências autênticas e enriquecedoras.
(Assista o vídeo abaixo) Conheça um pouco da trajetória do artista santareno Renato Sussuarana VÍDEOS: mais vistos do g1 Santarém e Região